
Vem de Recife uma das melhores surpresas desse começo de 2010. No final do ano passado, quando a Comadre Fulozinha lançava seu terceiro álbum "Vou Voltar Andando", Karina Buhr já se preparava para seu primeiro trabalho solo como outra mulher. "Eu Menti pra Você" prescinde das cirandas, cocos e maracatus da banda pernambucana que ela fundou e leva em frente desde o final dos anos 90. Karina concentrou a polivalência de percussionista, cantora, compositora, ilustradora e atriz – já cedida a nomes inspiradores como a banda Eddie e DJ Dolores, além de ter sido integrante do Teatro Oficina de Zé Celso Martinez por cinco anos – num disco que flerta com diversos estilos de uma maneira dissimulada, branda e autêntica, conferindo a única certeza: é um trabalho autoral até a raíz. Na faixa-título que abre o álbum, Karina chega avisando com uma voz calminha que é uma pessoa má. Sei... Difícil de crer. Até mesmo quando diz que a “fúria odiosa já tá na agulha” em “Esperança Cansa”, permeando caracaxá e gonguê em bases eletrônicas, ou na balada linda e torta que é “Mira Ira”. São várias mulheres de Karina Buhr, acompanhadas por uma banda de prodígios: Mau no baixo, Bruno Buarque na bateria, Dustan Gallas nos teclados e Guizado no trompete. As guitarras, quando aparecem, são de convidados sagazes: Fernando Catatau, do Cidadão Instigado, e Edgard Scandurra. Autora e personagens se confundem em faixas como “O Pé” ou “Bem Vindas”, que tem como destaques o piano e a sanfona de Marcelo Jeneci, e “Avião Aeroporto”, que tem em seu bojo motivos musicais únicos e interessantes. Há muito tempo eu esperava ouvir algo assim e fiquei feliz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário