7.8.10

Dissecando Tom Zé.


Compositor, cantor, arranjador e ator nascido em Irará, no sertão baiano, Tom Zé é uma das figuras mais originais e controvertidas da MPB. Aprendeu a gostar de música ouvindo rádio em sua cidade natal e decidiu estudar música na Universidade da Bahia, em Salvador. Lá teve aula com Koellreuter, Smetak e Ernst Widmer, e aprendeu harmonia, contraponto, composição, piano e violoncelo.

No começo da década de 60, conheceu Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso e Maria Bethânia, com quem montou um grupo para os espetáculos “Nós, Por Exemplo” e “Velha Bossa Nova e Nova Bossa Velha”. Com o grupo foi para São Paulo, onde participou do espetáculo “Arena Canta Bahia” e do disco-chave para o movimento tropicalista “Tropicália ou Panis et Circensis”, lançado em 1968 e que continha sua composição “Parque Industrial”. No mesmo ano, conseguiu o primeiro lugar no Festival de MPB com “São São Paulo, Meu Amor” e apareceu seu primeiro LP individual, “Tom Zé”, seguido por outros álbuns na década de 70. Seu álbum “Todos os Olhos”, de 1973, foi considerado inovador demais, e não teve boa aceitação na época, afastando Tom Zé da mídia brasileira, a despeito do imenso sucesso de seus conterrâneos. Gravou outros discos de menos sucesso, como “Correio da Estação do Brás” (1978) e “Nave Maria” (1984).

No fim da década de 80, sua carreira deu uma reviravolta quando o músico David Byrne, líder da banda Talking Heads, descobriu num sebo o inovador “Estudando o Samba” (1976), fascinante LP em que Tom Zé (com parceiros como Elton Medeiros) mexe nas estruturas do principal gênero musical do país. Fascinado, Byrne lançou o compositor no mercado internacional por meio de seu recém-criado selo Luaka Bop. O disco “The Best of Tom Zé”, editado pelo próprio Byrne em 1990, foi aclamado pela crítica, ficando entre os dez melhores da década em todo o mundo, na avaliação da revista “Rolling Stone”.

Durante a década de 90, excursionou pela Europa e Estados Unidos com bastante sucesso, o que só se refletiu no Brasil em 1999, com o lançamento de seu CD “Com Defeito de Fabricação”. A partir daí, Tom Zé voltou ao cenário da música brasileira. O músico foi retratado no ótimo documentário “Fabricando Tom Zé” (2007), primeiro filme de Décio Matos Jr. O diretor paulistano conseguiu resgatar um bocadinho da figura de Tom, antes que algum cineasta estadunidense o fizesse. O documentário merece louvor por dissecar seu personagem sem excesso de distanciamento ou firulas dramáticas construídas. Pelo contrário, o longa é tão sincero quanto o músico, que não tem papas na língua e é um dos poucos medalhões da sua época que não perdem seu tempo em politicagens. Décio ainda teve a sorte de capturar Tom Zé esculhambando a produção do Festival de Montreux no seu show em 2005 e esbravejando sobre o tratamento dos estrangeiros com as culturas “subdesenvolvidas”. Foi glorioso!

Seu novo álbum, “O Pirulito da Ciência” é um título bem à moda Tom Zé: criativo, convidativo e provocante. Se você nunca o assistiu ao vivo, não o perca logo mais no Circo Voador com as favoritas: ”Vai (menina amanhã de manhã), “Mã”, “Um ‘Oh!’ e um ‘Ah!’”, “Nave Maria”, “Xiquexique” e “Quero samba, meu bem”.

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