29.10.11

Screamadelica demais!



Em momento de distorção de conceitos, o zumbido nos ouvidos serve de lembrança: às vezes basta só um palco, só uma banda, só um disco e mais nada. Isso foi o suficiente, por exemplo, para que o Circo Voador vivesse uma noite sem igual com a estrondosa apresentação do Primal Scream, tocando o clássico disco “Screamadelica” na íntegra. Foi um daqueles raríssimos casos em que tudo contou a favor: o som (alto e claro), a luz (precisa e climática), as projeções (hipnóticas e envolventes) e, acima de tudo, a arrepiante interação entre banda e público. Não vai ser fácil esquecer o que aconteceu ali!

A história é mais do que conhecida. Para comemorar os 20 anos bem vividos de “Screamadelica”, Bobby Gillespie e companhia pegaram a estrada em 2010 para celebrar esse fato raro: o rejuvenescimento de um disco que soa, a cada dia, mais atual. Eu diria mais até do que um outro clássico do mesmo período, “Nevermind”, do Nirvana. E o desembarque dessa turnê no Rio teve um toque especial, um tapete vermelho estendido pelos próprios fãs, que se mobilizaram para trazer o grupo à cidade.

O grupo fez a sua parte no acordo: chegou e tocou. E como tocou!. “Movin´ on up” abriu o show, seguida pela ultragrooveada “Don´t fight, feel it”, como cartões de visita mais que perfeitos para o que viria pela frente, da incrível história que seria contada em cerca de 1h30m de show: rock anos 60 de mãos dadas com o rock anos 80, abençoado pelo gospel e magicamente alterado pela psicodelia, a eletrônica e, principalmente, o dub.

À frente de tudo, Gillespie, a mais cool das figuras, um frontman sem afetações, naturalmente carismático, fazendo a ponte entre banda e público, como um Mick Jagger minimalista. Em torno dele, o desfile de “Screamadelica”: da floydiana “Higher than the sun” ao balanço stoniano de “Loaded”, com backing vocals da plateia, culminando com a consagração apoteótica de “Come together.”

Quando a banda voltou para o bis, encerrado com a furiosa “Rocks”, o Primal Scream e o Circo já estavam, enfim, “juntos como um só”. Não por acaso, depois do show, ao saber no camarim como tinha sido a iniciativa para trazer a banda ao Rio, Bobby Gillespie se deixou contagiar mais um pouco e, impressionado, resolveu sair dali para ir ao encontro dos fãs, terminando a noite – e que noite! – autografando cartazes do show, ao lado dos banheiros. E é assim que tem que ser.

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