20.5.13
Monotemático
O título é uma brincadeira ácida comigo mesmo que estava relutante em falar dela, a moça da semana. Ou seria da anterior? E… da anterior também?! O nome dela é Clarice Falcão. Explico que minha relutância vinha simplesmente da ideia de não falar da mesma coisa que todo mundo tem falado everywhere (rádio, TV, blogs, jornais e aqui mesmo no RIOetc) quando o assunto é música – ah, perdão, tem também o novo disco do Daft Punk que não sai da boca, ou melhor, dos ouvidos do povo!
Mas assumo que foi inevitável falar de Clarice. Seu primeiro disco “Monomania” é arrebatador: doce, delicado, colorido, divertido e um quê ácido, assim como eu estava sendo comigo mesmo. E falando em acidez, vem ela dizer “e se eu mostrasse o cianureto que eu comprei pra gente se matar, você manda me prender no amanhecer”, na fugitiva canção “Macaé” embalada em ótimo arranjo de cordas.
Não tenho aquelas maravilhosas bolas de cristal, mas acredito que Clarice veio pra ficar. É inegável o talento dela em diferentes frentes seja como escritora, atriz, roteirista e agora compositora. E refletindo sobre o que ouvi, vi e li sobre Falcão, a música parece que esteve sempre com ela, naturalmente. Tão natural que ela já revelou ter aprendido violão sozinha somente para se acompanhar e compor. Aliás, todas as músicas de “Monomania” são de Clarice, que fez questão de mergulhar sozinha no seu mundo de palavras.
Palavras que descrevem o roteiro de um filme de amor que talvez não tenha final feliz em “Fred Astaire” com um pianinho adorável, em clima meio Charleston. E o amor permeia todas as composições, ora desvairado e louco como o companheiro de Clarice em “De Todos os Loucos do Mundo”, ou no diálogo apaixonado e, ao mesmo tempo, acanhado no duelo entre ela e o cantor paulista Silva, a única participação em todo o disco, na faixa “Eu Me Lembro”.
Várias canções de “Monomania” ganharam mais corpo nos arranjos produzidos para o disco. “Uma Canção Sobre o Amor” deixou sua versão voz e violão de 2011 para dar lugar à “Oitavo Andar”, a mesma música só que renomeada e com a adição de violino, baixo e bateria ali mais pro fim. Tem ainda a valsinha “A Gente Voltou” com tuba e trompetes que praticamente finaliza o disco proclamando a “paz entre os povos” porque o casal de namorados voltou. Mas como nada no fantástico mundo de Clarice – parodiando a série original do namorado Gregório Duvivier – dá muito certo, o planeta corre sério risco quando ela deixa no ar: “mas e se a gente separa / se a gente para e se parará / para que se a gente para / o mundo acabou”. Fim.
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