30.7.11

As lindas letras ordinárias de Amy.



A “crônica pop de uma morte anunciada” da cantora britânica Amy Winehouse vai nos privar de seguir sua carreira turbulenta errática, mas sempre interessante – a não ser que o tal “próximo disco” saia, ainda que póstumo. A curta carreira de Amy pode ser vista de várias maneiras: a da voz de contralto privilegiada, a de seus excessos enquanto arma para entender a bagunça de sua vida público-privada, a de fazer despontar uma quantidade infindável de cantoras mulheres (em redundância proposital) nas paradas britânicas, a do resgate da modernidade da Soul Music para um público jovem e guitarreiro.

Talvez seja mais bonito ver Amy Winehouse dentro do contexto geracional sincero e simples no qual ela esteve inserida e, por alguns motivos, foi luminar. Ela era capaz de fazer uma linda letra de música de uma cotidiana e mundana ida a um pubzinho. A amiga “pop/reggae” Lily Allen, o rapper The Streets e o grupo de rock Arctic Monkeys são excelentes parceiros de Amy nesse estilo. Enquanto a primeira fez a fama com uma música sobre um “pé-na-bunda” amoroso numa sinceridade simples de doer, o The Streets chegava perto do “rap perfeito” narrando a ida a um pub para ver um jogo de futebol e o Arctic Monkeys fazia uma das mais incríveis canções de rock dos últimos tempos ou descrevendo como era tratado pelos seguranças da porta de um clube, na hora em que chegava sua vez na fila para entrar, Amy estourou mundialmente com a inesgotável “Rehab” que narrava suas conversinhas com o pai sobre se devia ou não ir a uma clínica de reabilitação para tratar de seu vício em drogas e bebidas. O pai dizia que ela estava bem, ela preferia ficar em casa com o namorado e, na conversa com o doutor, dizia que não tinha idéia de por que precisava de ajuda médica. Isso sempre disse muito sobre Amy no artístico e no pessoal, né não?

Uma das canções mais belas, sua em particular ou da música inglesa em geral, é “You Know I’m No Good”, cujo título já diz muito sobre o recado que Amy sempre quis passar para quem quisesse ouvi-la. Ela nos contava sobre as brigas com o namorado, de traí-lo com o ex e das conversas no bar regada a Stellas. É o cotidiano boçal de uma “inglesa comum” nas paradas de sucessos do mundo todo! Repare que com Amy Winehouse, Arctic Monkeys, The Streets, Lily Allen, e um monte de outros ingleses dessa geração, não há poesia na letra ou reflexões elocubrativas sobre o amor e a vida. A não ser que isso tudo seja pintado com as cores de um dia-a-dia ordinário.

No caso de Amy, passamos a conhecê-la tanto por suas canções que sua morte nem chega a ser uma baita surpresa. Estava escrito em suas músicas.

P.S.: Na programação dos shows diários que o iTunes Festival faz no Roundhouse em Londres, a afilhada de Amy Winehouse, a cantora Dionne Bromfield, de 15 anos, fez uma apresentação quarta-feira passada. Dionne estava abrindo para a sensação pop adolescente inglesa, The Wanted. Amy Winehouse – que morava pertinho dali, em Camden – apareceu de supetão no show de Dionne, subiu ao palco, não cantou exatamente uma música, mas deu aquela dançadinha e incentivou o público a sair de lá e comprar o disco da pupila. Foi a última aparição de Amy em um palco.

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