7.5.11

O toque de Marcelo Camelo.


Artisticamente, a mudança é mais que humana: é percurso. No caso de Marcelo Camelo, desde os tempos de Los Hermanos, o caminho parece ser não se referenciar pelos paradigmas, mas relativizá-los constantemente. A ruptura e a busca da reinvenção não são mera iconoclastia, mas sim um grande elogio à liberdade criativa.

Afirmar que Camelo fez um álbum de amor talvez não soe como uma novidade, mas “Toque Dela” é, certamente, seu conjunto de canções que soa mais pessoal: o amor como declaração direta e carta aberta. Gravado ao longo de 2010 no estúdio El Rocha, entre caminhadas no bairro de Pinheiros, nos alpes paulistanos, onde fica o estúdio e onde ele mora há dois anos, “Toque Dela” é um álbum tranquilo, como se produzido por ele próprio e gravado entre amigos e sem pressa, o que realmente foi. É um álbum bem pessoal, com algumas faixas gravadas pelo próprio Camelo tocando as bases de baixo, bateria, percussão, violão e guitarra. Em todas as outras, é acompanhado pelo sexteto Hurtmold, que já tocava em metade das faixas de seu primeiro álbum. Curiosamente, ao mesmo tempo que é um álbum mais “de banda” do que o anterior, é cheio de tons acústicos, costurado com assobios, ukuleles, metalofones, naipes de sopros, cores, pores-do-sol, visões do mar, solos e ruídos poéticos.

Três das dez músicas do álbum, por sinal, citam São Paulo. Quatro falam do sol. “Morena” e “Pretinha” também são referências comuns e a palavra amor aparece sete vezes nas letras. Três anos atrás, quando duetava em seu primeiro álbum com Mallu Magalhães, com quem começava a namorar então, Camelo cantava a possibilidade de a eternidade ser cruel. Hoje, em ‘‘Vermelho’’, faixa em que Mallu participa, ele se assume sem medo, filho da eternidade. Tempo de recomeçar, declaração direta, como em “Acostumar”, “Pra Te Acalmar” e “Tudo Que Você Quiser”. A solidão é doce, mas é triste viver só dela.

Um grande álbum, como toda a arte, capta palavras, sons, idéias e fotografa o momento. Em sua estética do espontâneo, desenhando um universo poético simples, mas não óbvio, Marcelo Camelo finalizou um álbum de amor tocante como afirmação artística. Talvez ouvir de longe o antigo companheiro de banda Rodrigo Amarante e de perto a namorada, Mallu Magalhães, tenha lhe feito bem. Não apenas um álbum sobre o toque dela, mas um álbum com um toque dela. E lá vamos nós ao Circo logo mais para participar dessa estória.

Marcelo Camelo - Ô ô by gomesemaia

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