10.9.11
No labirinto de Rômulo Fróes.
Rômulo Fróes é um compositor que não se encaixa nas classificações de praxe. Admirado e citado pela nova geração de música alternativa “cabeça”, faz parte de um grupo de artistas que monta acampamento nas fronteiras desse país chamado música popular brasileira. Parceiro constante do escritor e artista plástico Nuno Ramos, Fróes trabalha com um núcleo pequeno de músicos. Juntos, constroem texturas sonoras apropriadas para as elípticas letras, onde coruscam rápidas citações de versos conhecidos da MPB, como cacos de vidro no meio da areia.
Mas é com a areia grossa das palavras cotidianas que Nuno, Fróes, Clima e Rodrigo Campos fazem suas edificações sonoras. Uma poesia embebida de estranhamento, que recusa o beletrismo e o romantismo barato. “Pedi pro santo, espanto e som/ ninguém ligou, é bom”. As frases musicais são sintéticas, moléculas musicais que formam melodias esquemáticas e pouco assobiáveis. Essa economia formal se encaixa com precisão na estrutura sonora, obrigando o ouvinte a prestar atenção no discurso aparentemente caótico, buscando sentidos.
A contribuição dos músicos não é pequena, no seu novo disco “Um Labirinto em Cada Pé”, lançado este ano. A guitarra tensa de Guilherme Held, o cavaquinho e a percussão de Rodrigo, o sax de Thiago França, o baixo flutuante de Marcelo Cabral e a bateria sem sotaque de Pedro Ito traduzem e completam o espírito de cada música. As intervenções suaves de Clara Becker atenuam a aspereza um tanto monocórdia da voz de Rômulo. Até a participação especial de Arnaldo Antunes na faixa “Rap em Latim” (de Nuno Ramos) soa natural, nesse universo de pequenas estranhezas.
Essa “nova música” está por aí, borbulhando nos trabalhos de uma turma de novas cantoras, de jovens compositores, concentrados no Rio e em Sampa (mas não só). Como traço comum, a negação ao formato música-pra-tocar-no-rádio. No velho rádio, bem entendido, porque criam a urgência de um novo rádio, de um novo ouvinte, de uma maneira diferente de consumir este secular produto chamado canção.
É como se a falência do produto disco, o tráfico incontrolável da música pela internet e a cansativa discussão sobre direito autoral soltasse as amarras criativas de uma geração. O que adianta fazer música “bonitinha”, enquadrada, se não vou ganhar nada com isso? Melhor então fazer a música que me der vontade, a rima que eu quiser, com o significado que minha turma vai entender.
“Eu sinto o aplauso e sinto a vaia/ ah, tudo de novo”, canta Dona Inah, à capela, na faixa de abertura. Contradição? Não. A música de Rômulo Fróes é a reciclagem de tudo, a contribuição milionária de todos os erros e acertos, a não-negação do passado. Não busca o radicalismo da atonalidade, não descamba para a escatologia, preserva o formato básico da canção, tem até parte-A-parte-B-e-refrão. Mas é diferente. Ou, como diz a faixa-título “Sabe quem sou/ sabe o que é/ um labirinto em cada pé/ em cada mão/ um contrapé/ cara de cão outra mulher/ clara não sou/ mas se quiser/ posso explicar ou não mané”. Entendeu?
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Romulo Fróes
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