15.10.11

Ladytron e suas criaturas.



Quando o Ladytron surgiu, em 1998, a onda ‘revival’ do synth-pop e de seu lado escuro – a Cold Wave – ainda não era a moda vigente. Hoje, passados 13 anos, muitas são as bandas que projetam no grande muro que é a música os slides restaurados de imagens de 25, 30 anos atrás – dos radiofônicos arrumadinhos aos esquisitos do undergound. E entre eles há ainda o Ladytron.

O quarteto de Liverpool chega a seu quinto álbum de estúdio ainda com fôlego para correr atrás dessa nova leva de grupos e mostrar que pode deixá-los comendo poeira, retomando de certa forma o que começaram em seus dois primeiros discos (“604” e “Light & Magic”, de 2001 e 2002). Um retorno às origens e um distanciamento tanto da sonoridade mais roqueira de “Witching Hour”, de 2005, quanto do industrial “Velocifero”, de 2008.

“Gravity the Seducer” é um álbum que, apesar da aura gelada – presente em tudo que o Ladytron sempre fez –, é leve; não todo adocicado como pode parecer ouvindo sua primeira faixa, “White elephant”, algo como um híbrido de Carpenters e Abba, mas de uma forma geral é, sim, de fácil vício.

As coisas ficam realmente interessantes a partir da terceira música, “White gold”, que emula a citada Cold Wave e pistas de porões góticos, com vocais pra lá de frios, sintetizadores idem e beats lentos gerando uma canção densa, desesperada. Na sequência, dois momentos mais ‘UHUUUU!’, em “Gravity the Seducer”: “Ace of hz”, que está inclusive na pelada do joguinho Fifa 2011, e “Ritual”; a primeira bem pop e a segunda com cara de pós-rock à la Stereolab, instrumental como a ambient music de “Transparent day” e a Kraftwerkiana “Aces high”.

“Ambulances” é a prova de que o Ladytron não deve nada a seus pares mais jovens: é quase como o que se chama de witch house: meio etérea, meio fantasmagórica, mas com contornos próprios; e precede o hit em potencial “Melting ice”, híbrido entre chiclete e pedra de gelo, outra marca da banda nesses anos de carreira.

O adjetivo para “Gravity the Seducer” parece ser melancolia. Esse sentimento aliado a sua produção retrofuturista o torna um trabalho sombrio, feito para dias de inverno em que o céu pode até estar azul, mas com a temperatura próxima de zero. Sem dúvida será sucesso em baladas criativas dos inferninhos cariocas e paulistanos que tanto amamos.

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