1.6.13
Encantos Mil
O nome é inspirador: Festival Encantado. E a inspiração vem da região chamada Vale do Encantado, incrustada entre as montanhas do Parque da Tijuca, no Alto da Boa Vista, que recebe pelo segundo ano consecutivo o festival reunindo artistas contemporaneos e músicos do Brasil e França.
Seu Jorge e o french rocker Matthieu Chedid foram os destaques de 2012 na maratona de shows que este ano tem como padrinho o atual midas da música brasileira, o rapper Criolo. A nova geração da música francesa estará representada pelo também rapper C. Sen e DJ Dax, o label ClekClek Boom com os DJs French Fries, Ministre X e The Boo, além de Jerome Pigeon, a.k.a. Gringo da Parada, o cara responsável pela criação do Favela Chic em Paris, ao lado de Rosane Mazzer, e mentor das excelentes coletâneas Postonove 1, 2 e 3 que ressuscitou inúmeros clássicos da MPB.
Entre os brasileiros, destaques ainda para a cantora Simone Mazzer, o grupo musical-performático paulista Voodoohop, liderado pelo DJ Thomash, e os projetos do designer Ygor Marotta: o duo performático VJ Suave e Cesi Soloaga com intervenções de artes plásticas e animação digital, e o movimento de intervenção urbana "Mais Amor Por Favor" que se espalhou pelas ruas de São Paulo clamando por um mundo mais harmonioso e menos violento.
Mas eu curti mesmo foi a exceção nesta conexão Brasil-França: o mitológico grupo feminino E.S.G.. Nascido no Bronx, Nova Iorque, no início dos anos 80, o grupo das irmãs Scroggins serviu de referência para uma enormidade de artistas do hip hop, post-punk, disco e dance-punk que viriam a surgir combinando de diferentes maneiras suas poderosas e simples batidas recheadas de muito groove e alguns vocais no estilo rap. Músicos e bandas como TLC, Wu-Tang Clan, Beastie Boys, Tricky, Jay-Dee e até o rock do Liars extraiu inúmeros samples das criações do E.S.G. que, inclusive, após alguns anos de recesso, lançou em 1992 o EP “Sample Credits Don't Pay Our Bills” cujo título fala diretamente das composições de outros artistas baseadas em trechos das músicas delas.
Recomendo ouvir a coletânea “Dance To The Best Of ESG”, lançada em 2010, para sentir o poder destas mulheres que desafiaram a realidade pobre e violenta da região sul do Bronx e que, pela primeira vez, se apresentam em palcos brasileiros. Para acompanhar, sugiro beliscar um dos pratos da original gastronomia agroflorestal desenvolvida pela comunidade do Vale do Encantado como o jacalhau, pastel de taioba, geléia de chuchu com pimenta rosa e os sucos de couve com maracujá e chuchu com hortelã. Vai na fé, abra a boca e o coração para se deliciar com os quitutes, a boa música e a linda vista da praia da Barra da Tijuca.
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E.S.G.,
Festival Encantado,
RIOetc Musical
25.5.13
Pop vestido de bolinha
O vídeo de “I Could’ve Been Your Girl”, lançado esta semana, sintetiza o trabalho do duo She & Him durante sua trajetória até chegar a “Volume 3”, o quarto álbum do casal M. Ward e Zooey Deschanel, a atriz de doces e cintilantes olhos azuis. A máquina do tempo de She & Him nos leva aos anos 60 para curtir o piquinique com toalhas quadriculadas, cestos de palha e a brisa marítima da surf music. Os ecos de Brian Wilson e os Beach Boys são percebidos na primeira audição deste single que é encorpado corretamente pelos arranjos de cordas por trás da voz de contralto de Zooey.
E como está belo o timbre dela. Pinçando o Volume 1, de cinco anos atrás, é fácil perceber como amadureceu a interpretação de Zooey, que também compõe em quase todas as canções do disco. Composições que falam, invariavelmente, de amor, mas sem recorrer a pieguices e dramalhões emocionais. Zooey discursa com propriedade de quem viveu uma separação recente e nada amigável que permeou todo o período de preparação para Volume 3. O título para “Never Wanted Your Love” talvez seja uma indicação de tais tempos difíceis e amargurados.
Entre composições de Zooey, como “Somebody Sweet to Talk To”, “Snow Queen” e o soft rock “I’ve Got Your Number, Son” há também covers inspirados do repertório da cantora e compositora norte-americana Ellie Greenwich (1940 – 2009) em “Baby”, do Blondie com “Sunday Girl” embutida no disco Parallel Lines (1978) e “Hold Me, Thrill Me, Kiss Me”, de bastante sucesso, em 1965, na voz do cantor norte-americano Mel Carter. Aliás, esta última cai como uma luva para celebrações de casamento de estética vintage.
Para Ward e Deschanel a colaboração conjunta sob o codinome She & Him não é prioridade em suas carreiras. Zooey segue em alta como protagonista da série de TV “New Girl” que já lhe renderam duas indicações ao Globo de Ouro. Já Matthew Ward continua trilhando sua estável carreira de oito álbuns solos e colaborações em projetos paralelos. Não há planos para uma turnê mundial mas faço fé que em poucos meses o duo desembarque no Brasil para um show, quem sabe, no Circo Voador, através de uma campanha bem sucedida do Queremos e seus cariocas empolgados. Cruzem os dedos!
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She & Him
20.5.13
Monotemático
O título é uma brincadeira ácida comigo mesmo que estava relutante em falar dela, a moça da semana. Ou seria da anterior? E… da anterior também?! O nome dela é Clarice Falcão. Explico que minha relutância vinha simplesmente da ideia de não falar da mesma coisa que todo mundo tem falado everywhere (rádio, TV, blogs, jornais e aqui mesmo no RIOetc) quando o assunto é música – ah, perdão, tem também o novo disco do Daft Punk que não sai da boca, ou melhor, dos ouvidos do povo!
Mas assumo que foi inevitável falar de Clarice. Seu primeiro disco “Monomania” é arrebatador: doce, delicado, colorido, divertido e um quê ácido, assim como eu estava sendo comigo mesmo. E falando em acidez, vem ela dizer “e se eu mostrasse o cianureto que eu comprei pra gente se matar, você manda me prender no amanhecer”, na fugitiva canção “Macaé” embalada em ótimo arranjo de cordas.
Não tenho aquelas maravilhosas bolas de cristal, mas acredito que Clarice veio pra ficar. É inegável o talento dela em diferentes frentes seja como escritora, atriz, roteirista e agora compositora. E refletindo sobre o que ouvi, vi e li sobre Falcão, a música parece que esteve sempre com ela, naturalmente. Tão natural que ela já revelou ter aprendido violão sozinha somente para se acompanhar e compor. Aliás, todas as músicas de “Monomania” são de Clarice, que fez questão de mergulhar sozinha no seu mundo de palavras.
Palavras que descrevem o roteiro de um filme de amor que talvez não tenha final feliz em “Fred Astaire” com um pianinho adorável, em clima meio Charleston. E o amor permeia todas as composições, ora desvairado e louco como o companheiro de Clarice em “De Todos os Loucos do Mundo”, ou no diálogo apaixonado e, ao mesmo tempo, acanhado no duelo entre ela e o cantor paulista Silva, a única participação em todo o disco, na faixa “Eu Me Lembro”.
Várias canções de “Monomania” ganharam mais corpo nos arranjos produzidos para o disco. “Uma Canção Sobre o Amor” deixou sua versão voz e violão de 2011 para dar lugar à “Oitavo Andar”, a mesma música só que renomeada e com a adição de violino, baixo e bateria ali mais pro fim. Tem ainda a valsinha “A Gente Voltou” com tuba e trompetes que praticamente finaliza o disco proclamando a “paz entre os povos” porque o casal de namorados voltou. Mas como nada no fantástico mundo de Clarice – parodiando a série original do namorado Gregório Duvivier – dá muito certo, o planeta corre sério risco quando ela deixa no ar: “mas e se a gente separa / se a gente para e se parará / para que se a gente para / o mundo acabou”. Fim.
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11.5.13
Eles querem… E nós também!
“Parace que foi ontem, mas já faz tanto tempo…”. O trecho inicial da canção de Itamar Assumpção encartada no disco Intercontinental, de 1988, dá uma boa medida de como parece recente, e ao mesmo tempo já distante, a última apresentação do Nouvelle Vague, no Rio de Janeiro.
Há oito meses, o grupo francês apresentou, sob a lona do Circo Voador, o musical "Dawn Of Innocence" concebido pelo estilista Jean-Charles de Castelbajac e inspirado no livro “A história do olho”, de Georges Bataille, (um conto erótico recheado de perversões, lançado em 1928).
O luxuoso espetáculo reunia 18 músicas do repertório do Nouvelle dentro de uma atmosfera soturna e erótica, com os dois pés no burlesco, utilizando-se de figurinos em cores extremamente vívidas que são uma marca de Castelbajac conhecido por sua estética pop e colorida - vide o vestido de sapos de pelúcia que causou tanto alvoroço no corpo de Lady Gaga.
A data do próximo show, em setembro, é parte de mais uma campanha do bem sucedido projeto Queremos que deseja concretizar apresentações inéditas do Nouvelle Vague nas cidades de Curitiba e Fortaleza e também no excelente palco do Imperator, no Rio, sempre com a ajuda e divulgação dos “empolgados”.
Desta vez, a banda deve trazer um show um pouco mais intimista, em formato acústico e bossa-novista, que serve perfeitamente à estética que o Nouvelle arquitetou em quase dez anos de estrada interpretando clássicos do new wave e do punk rock de bandas como Clash, Blondie, Joy Division e Depeche Mode.
Mas até lá algumas novidades podem surgir. Marc Collin, um dos criadores do grupo, sinalizou na sua última passagem pelo Brasil que o Nouvelle quer se reiventar num novo trabalho interpretando “covers de si mesmo”. Vai saber o que isto quer dizer… O que se pode imaginar é que o disco, com previsão de lançamento para os próximos meses, deve seguir o tom noir, elegante e sensual que é a marca inconfundível do Nouvelle Vague.
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4.5.13
Invasão francesa
Nos próximos meses, o Brasil é destaque mais uma vez em Paris. O tradicional Le Bon Marché comercializa inúmeros produtos brasileiros e de diferentes segmentos (moda, beleza, decoração, design e gastronomia) no evento “Le Brésil sur La Rive Gauche”. Isto sem falar na adoração pela nossa música, que vai de Nação Zumbi e Lucas Santtana aos tarimbados Lenine, Seu Jorge e Marisa Monte.
Por outro lado, o mundo observa uma crescente e criativa produção musical francesa que vem fazendo a diferença. Daft Punk, Justice, Zaz, Camille, Phoenix, Ben l’Oncle Soul e o mais rico deles, o estouradíssimo David Guetta, são alguns dos destaques.
Fora do mainstream, chamo atenção para o trabalho de Jean-Christophe Le Saoût, nome de batismo do DJ, rapper e produtor Wax Tailor. Com vários EPs e quatro discos na bagagem, Tailor chega ao Brasil este mês para duas apresentações dentro da programação oficial da Virada Cultural Paulistana 2013.
Após o début com “Tales of the Forgotten Melodies”, de 2005, que teve boa repercussão na Europa e Estados Unidos, Tailor apresentou, ano passado, a obra conceitual “Dusty Rainbow from the Dark” que começa a ganhar mais destaque com a veiculação da animação do estúdio parisiense Kippik para a faixa título “Dusty Rainbow”, com a bela Charlotte Savary nos vocais.
O disco repleto de participações – Sara Genn, Mattic, A.S.M, Ali Harter, Elzhi, Jennifer Charles, Shana Halligan – conta uma história musical inspirada num sombrio imaginário infantil, cujo personagem está na capa e foi desenhado pela renomada cartunista Rebecca Dautremer. As canções – com destaque para “Time to Go” na voz do soulman americano Aloe Blacc – são conectadas pela narração grave e de tom soturno do ator britânico Don McCorkindale, que lembra bastante a interpretação de Vincent Price em “Thriller”, de Michael Jackson.
Frases como “O arco-íris é um caminho / que leva da escuridão para a luz / e do claro ao escuro / ela leva a sua imaginação / se você abrir sua mente, você vai encontrar o seu arco-íris empoeirado da escuridão.”, sugerem o clima sombrio do ótimo disco de Wax Tailor. Vale ouvir também o CD nº2, somente com faixas instrumentais, para viajar ainda mais profundamente.
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Wax Tailor
1.5.13
Outono de brisa
Que o verão é a cara do Rio ninguém duvida. Mas entre os da gema há muitos apreciadores das temperaturas mais amenas que o outono traz semanas após o fervilhante carnaval, e até mesmo os que amam o rigoroso inverno carioca, que vem a seguir com seus “tenebrosos” 15ºC em noites mais congelantes!
Para acompanhar este clima mais suave e a bela luz dourada de maio, que faz a alegria dos fotógrafos da cidade, a Rádio Pitada ganha um tempero mais leve e açucarado com música para curtir a brisa ou tomar vinho tinto com fondue.
Em toda a sequência, há novidades de discos recém-lançados e que já foram títulos de colunas anteriores, caso de “Vai e Volta”, de Andreia Dias, e “Que Delícia”, por Karol Conka. E tem mais fornadas nacionais quentinhas, como “Roupa Suja”, do disco É O Que Temos, de Bárbara Eugênia, que na canção tem a companhia do paulistano Pélico, e “Trouble”, single do cantor e compositor americano José James que ganhou o excelente tempero do mestre dos remixes elegantes, o amigo e DJ Lucio K, que atualmente reside nos States.
Ainda no quesito “novidades sonoras”, você vai curtir “June” do excelente primeiro disco dos irmãos fashion do Wild Belle, “San Francisco”, do duo californiano Foxygen, que canta a desilusão do amor deixado para trás em L.A., e “The Good Good” do rapper Snoop Dog que, aqui, ataca de ragga man na parceria com a cantora polonesa Iza, e que reencarnou como Snoop Lion.
O clima segue com a banda Mão de Oito, que teve a participação dos rappers Kamau e Emicida na faixa “Beats”, levadinha de violões bem astral que contrasta com a viagem country rock do Edward Sharpe & The Magnetic Zeros em “I Don’t Wanna Pray”, e um twist da musa Brigitte Bardot para “Ça pourrait changer”.
Pra fechar, um remix super indie do RAC (aka André Allen Anjos) para “Hollywood (featuring Penguin Prison)” e “Calor do Amor” single encartado no ótimo EP do Mahmundi, que na prática é a cantora e compositora carioca Marcela Vale – uma simpatia! – e que ainda ganha um reforço dos amigos Felipe Vellozo e Lucas de Paiva.
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Rádio Pitada
15.4.13
Síncope no contexto
Batuque, muito batuque, “Batuk Freak”! Muito apropriado o nome do primeiro long play da rapper curitibana Karol Conka, reconhecidamente a grande sensação do hip hop feminino no Brasil.
Sem abandonar as raízes – a começar pelo fato de permanecer na cidade natal e evitar o êxodo, como de muitos músicos, para Rio ou São Paulo – Karol conseguiu a alquimia de misturar as referências da música eletrônica mais atual, como a trap music e a síncope que alicerça a música brasileira em diferentes estilos, para burilar composições que a aproximam do pop mundial. Méritos de todas as suas composições como “Que Delícia” e da mão do produtor Nave, responsável por algumas faixas de Marcelo D2 e Emicida, que integrou samples e instrumentos tradicionais de forma orgânica.
O resultado é um disco dançante sem deixar de lado a verve crítica tão comum ao universo hip hop. Difícil pinçar a faixa mais representativa entre pedradas sonoras como “Gueto Ao Luxo”, com início eletrizante de timbaus recortados digitalmente, “Vô Lá” com um sample de emboladeiros que serve de cuíca, ao fundo, emendando no pife que dá start para “Gandaia” que exala sensualidade.
“Sandália” condensa a matriz afrobrasileira na mistura de reggae com o berimbau e uma leve quebrada dancehall. “Olhe-se” tem a pegada heavy dos rappers americanos com a participação masculina do Mc gaúcho Tuty. Os destaques finais ficam para “Boa Noite”, cujo clipe ano passado confirmou o prêmio “Aposta” do VMB 2011 e “Caxambu”, sucesso na voz de Almir Guineto que ganhou uma roupagem completamente dissociada do partido alto de estrondoso sucesso em 1986.
Após abrir o show de Criolo, em sua passagem recente pelo Circo Voador, e de levar pela primeira vez, em 40 anos, um show de rap para o palco do tradicional Teatro Paiol, em Curitiba, Karol já ganha a atenção da mídia especializada internacional que vislumbra na sua mistura de ritmos o mesmo impacto que a singalesa M.I.A. provocou com seu disco “Kala”, de 2007.
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Karol Conka
8.4.13
Caravana Rolidei
No filme “Bye Bye Brasil” (1979), dirigido por Cacá Diegues, os artistas mambembes Salomé, Lorde Cigano e Andorinha percorrem alguns rincões do nosso país com a trupe Caravana Rolidei numa espécie de osmose cultural pré-globalização.
O trocadilho de férias não pode ser atribuído da mesma forma ao período em que a cantora paulista Andreia Dias colocou a mochila nas costas e foi conhecer o seu Brasil. Com escassez de músicos para trabalhar nos disputados centros de São Paulo e Rio de Janeiro, Andreia foi em busca de novas parcerias e trocas musicais. Após um ano e meio de estrada, o resultado desta road trip pode ser conferido em “Pelos Trópicos”, o sétimo disco da cantora lançado em janeiro.
Desrespeitando a “Triologia da Minha Cabeça” em que composições mais densas e solitárias já deram origem aos discos Vol.1 (2008) e Vol.2 (2010), Andreia Dias revela a profusão e pluralidade musicais existentes em algumas capitais brasileiras. Mas apesar de inúmeras parcerias e diferentes formas de produção bancadas com o aluguel do apartamento dela na capital paulista, “Pelos Trópicos” dá liga na diversidade que Andreia costura tão bem e que não distoa de seus trabalhos anteriores. O timbre, o jeito doce e a interpretação natural de Andreia continuam lá de forma marcante e inconfundível.
A viagem começou por Belém à convite de uma prima. Lá, Andreia se apaixonou pelo guitarrista Léo Chermont e juntos compuseram “Feliz e Mareado” e “Beijin na Nuca”, carimbó interpretado na cia de Felipe Cordeiro, um dos expoentes da efervescente cena musical do Pará. Na sequência, o encontro com a dupla Criolina, em São Luís, para “Brisa Tropicana”, composta e gravada num único dia, e o reggae “ Vai e Volta”, que abre o disco, com a banda Cabruêra, em Maceió.
Ainda no nordeste, a rabeca recifense de Zé Cafofinho (Luva Pele), o dueto The Baggios, em Sergipe (Aquilo), os potiguares do Talma&Gadelha (Terra do Nunca) e a guitarra do Baiana System (Pelos Trópicos) gravada em Salvador. O projeto ainda teve um tempo de gestação nas ladeiras de Santa Teresa, no Rio, onde Andreia Dias ficou hospedada na casa da amiga Thalma de Freitas que colabora em “Corpo e Mente”. Dali também saiu a marchinha “Xuxu Beleza” na cia da banda Do Amor, produzida pela cantora conterrânea Cibelle que também se abrigava na casa de Thalma, fonte do projeto Miradouro.
O roteiro musical de doze composições em dez estados pode ser baixado gratuitamente no site do bandcamp. E Andreia ainda promote um número dois percorrendo outras capitais brasileiras!
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Andreia Dias,
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22.3.13
Meus pêsames
A semana começou com a triste notícia da morte do cantor Emílio Santiago, um dos maiores intérpretes brasileiros. Seu primeiro disco, de 1975, é uma pérola da MPB com canções de João Donato, Jorge Benjor, Marcos Valle e Nelson Cavaquinho.
E com pesar vim saber tardiamente do “falecimento” de uma banda de Curitiba que desde o seu início despertou interesse da crítica e de quem curte folk music. O Rosie and Me pendurou guitarras e baquetas finalizando os trabalhos no fim de 2012, justo o ano em que lançaram o primeiro e único álbum completo intitulado “Arrow of My Ways”. Antes, a banda tinha somente cinco músicas encartadas no EP “Bird and Whale”, de 2010, com uma singela e belíssima arte de capa (os discos podem ser baixados gratuitamente no site da banda).
As canções escritas em inglês – fator que costuma não me agradar em bandas nacionais – encaixam-se perfeitamente na levadinha pop-folk do Rosie e na voz doce de Rosanne Machado, que justifica a preferência pela língua estrangeira por ter vivido e estudado nos Estados Unidos. “Arrow of My Ways” foi totalmente produzido e gravado pela multi-instrumentista Rosanne num dos cômodos da sua casa, em Curitiba, o que é mais um bônus para o resultado final do álbum.
Apesar de ser um disco bem deprê e “cinzento”, Rosie and Me soa, ao mesmo tempo, terno e doce em canções como “Southern Home” e “Light You Up”. O compositor e guitarrista inglês Joshua Thomas participa como convidado nas duas músicas que abrem o disco, “Home” e “Where the Heart Is”.
Antes do fim, Rosie and Me ainda soltou uma versão country para a contangiante “Ready For The Floor”, devidamente autorizada pelos britânicos do Hot Chip, que pode ser conferida na página do Rosie no Soundcloud. E como quem vai embora deixando saudades, a banda lançou um clipe despedida para “I Couldn't Reach You” que você confere ali em cima.
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Rosie and Me
19.3.13
Efeito Denorex: parece, mas não é!
Sei que as linhas logo seguem aqui mas, por favor, não leia ainda esta pequena resenha. Espere e vá ao link acima escutar um pouco e depois volte. Posso adiantar uma coisa: não é a Sade! Timbre doce, suave e muito delicado. Pois trata-se de um homem cantando. Isto nem é tão surpreendente dado outros exemplos na história musical. Pra ficar somente em figuras locais, citaria Edson Cordeiro ou, mesmo, Ney Matogrosso. Mas a voz em questão é do produtor, instrumentista e cantor canadense Mike Milosh.
Milosh, que tem formação clássica e assina trabalhos em bases mais eletrônicas, encontrou o dinamarquês Robin Hannibal após ser contratado para fazer um remix do duo Quadron, trabalho em conjunto da cantora Coco Maja Hastrup com o próprio Hannibal. Em entrevista ao site Pitchfork, Milosh conta que não queria simplesmente fazer um remix e tomou a liberdade de colocar a própria voz em cima da música do Quadron. O resultado deu liga e Milosh e Hannibal resolveram se encontrar e trabalhar juntos sob o nome de Rhye.
O resultado é “Woman”, disco que acaba de ser lançado e que é – como o próprio nome indica – profundamente feminino. A abertura é com “Open”, cujo clipe sintetiza a feminilidade presente em toda esta produção. Veja abaixo se eu, homem, não estou exagerando. Aliás, o conteúdo é tratado pelo YouTube, exageradamente, como “inapropriado para alguns usuários”.
E assim a leveza segue em canções tênues como “The Fall”, “Verse”, “Major Minor Love” e a própria “Woman”. A lembrança de Sade fica mais evidente na base e interpretação que Milosh e Hannibal imprimem em “Last Dance”. “Shed Some Blood” nos joga para os anos 90 em que a cantora nigeriana reinava absoluta no dial das frequências de soft music.
Porém a formação clássica de Milosh, que estudou violoncelo a partir dos três anos de idade e é um apaixonado por jazz, imprimem muita elegância nas batidas suaves misturadas a violinos, pianos e harpas. Sexy feeling!
E falando do trabalho de Hannibal, vale buscar o resultado sonoro do duo Quadron no Soundcloud, uma pegada mais soul com bases eletrônicas.
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9.3.13
Águas de março
O carnaval já passou faz tempo e deixou confetes, serpentinas e alguns corações partidos pelo caminho da folia. E, mais do que habitual, março está em pauta com suas históricas e poderosas águas para lavar a alma e abrir caminhos definitivos para o ano que enfim começa. É hora então de uma refrescada na Rádio RIOetc, que leva assinatura da Pitada. O desafio aqui é equilibrar as influências do nosso Brasil continental com a usina criativa que emana de diferentes cantos do planeta. E pra fazer jus a esta engenhosa mistura, começamos com os irmãos Supla e João Suplicy, que assinam Brothers of Brazil e cantam em inglês. A dupla amadureceu seu repertório e traz “On My Way” como carro chefe de seu terceiro disco. Em “A Ordem das Árvores”, da Tulipa Ruiz, a novidade fica para a gravação ao vivo do projeto Ray-Ban Meet the Legends, que a aproximou da lenda Jorge Mautner.
Em seguida, Otto com uma das boas de The Moon 1111, álbum lançado ano passado, que passa o bastão para a dupla Wild Belle com “It’s Too Late”, encartada no disco Isles, que chega às prateleiras na próxima semana. A baiana Márcia Castro embala com a clássica “Preta Pretinha”, dos Novos Baianos e Harper Simon, filho de Paul Simon, chega com o sweet folk “Wishes and Stars”, parte da trilha da série produzida pela HBO, “Girls”. Continuando com o grupo carioca Mohandas, que faz homenagem ao carimbó paraense, a bela Kate Earl e seu pop rock em “Not the End of the World”, e o Afrobombas, projeto paralelo de Jorge DuPeixe (Nação Zumbi) com “Do Sal e Sol Eu Sou”, que conta entre os integrantes com Ramon Lira, filho do próprio Jorge, e Louise Taynã, filha do precursor Chico Science.
Ainda tem os californianos Electric Guest somados à dupla Pomplamoose num “mashup” do grande sucesso “Somebody That I Used To Know”, do Gotye, Two Door Cinema Club e The Asteroids Galaxy Tour, acompanhados do talentosíssimo Silva, da incursão da atriz e escritora Clarice Falcão pela música em “Oitavo Andar”, e Pedro Luís sem os companheiros da Parede.
Pra afastar os móveis da sala, Los Sebosos Postizos, projeto que une integrantes do Nação Zumbi com o Mundo Livre S.A. para interpretar clássicos do clássico Jorge Benjor, o electro swing do Parov Stelar e, fechando a tampa, os niteroienses da banda Tereza (que eu adoro!) com uma das ótimas canções encartadas no disco “Vem Ser Artista Aqui Fora”, de 2012.
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3.3.13
Cafeína lisérgica
No meio musical brasileiro, como também de forma mais generalizada, costuma-se dizer que prestamos pouca atenção ao que os nossos vizinhos latino-americanos produzem culturalmente. Por este nada honroso motivo, muitos de nós desconhecem completamente uma das bandas mais importantes e influentes de todo o continente, o Café Tacvba.
Após terem que modificar o nome original (o Café de Tacuba, restaurante tradicional da Cidade do México, processou a banda) que os acompanha desde o início, em 1989, assim como a formação original com os mesmos integrantes até hoje, o Tacvba vem inflar a lona do Circo Voador, esta semana, no Rio. Na bagagem, o novo disco com o sugestivo nome de “El Objeto Antes Llamado Disco”, uma referência direta às transformações da indústria fonográfica com a chegada das novas mídias.
E após um hiato de cinco anos para o álbum anterior, o Café Tacvba mostra que não parou no tempo e seguiu seu caminho singular transformando a sonoridade originalmente indie numa excelente mistura de folk, eletrônico, sintetizadores e, como sempre, as referências da música latina. “El Objeto Antes Llamado Disco” ratifica a longevidade do Tacvba com duas ótimas canções de entrada, “Pájaros” e “Andamios”. “Espuma” é uma balada doce e onírica acompanhada do blues rock “Aprovéchate”.
A voz anasalada de Rubén Albarran e a diversidade sonora do Café Tacvba estão marcadas na batida sintetizada de “Yo Busco” e na sequência de “Tan Mal” apoiada em guitarras distorcidas em que a temática recorrente são os problemas da vida diária e o envelhecimento, além de citações sobre a violência urbana em que o México mergulhou por conta dos cartéis de drogas.
Vale muito ir ao Circo Voador, na próxima quinta-feira – que tem abertura dos brasilienses Móveis Coloniais de Acaju – e conferir in loco a excelente “Olita Del Altamar”, cujo lindo clipe, gravado na Reserva Nacional de Paracas, no Peru, está aqui acima para você.
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9.2.13
Confetes e serpentinas
Antes de algumas semanas de férias da coluna, curiosamente, escrevi sobre a trilha carnavalesca que acompanha as páginas de A Carioca. Eis que retorno quando a folia de Momo já está nas ruas do Rio há pelo menos duas semanas. Mas o quente, literalmente, são os quatro próximos dias, quando pessoas de vários cantos do país e do mundo se juntam aos animadíssimos foliões cariocas. Pra quem ainda não sintonizou as antenas no Carnaval, preparei uma nova programação para a Rádio RIOetc inspirada nos ritmos típicos desta época.
Foi impossível fugir de algumas canções já citadas aqui, seja por sua beleza ou pela atmosfera festiva, como composições de Antonia Adnet, Marina de La Riva, Tono e Márcia Castro. Mas pra começar tem “Baile Particumdum” do Partimpim Vol.2, de Adriana Calcanhotto, e a elegância de Thalma de Freitas na interpretação de “O Samba Taí”, composição de Seu Jorge e o amigo Sérgio Pell. A cultura da guitarra baiana é resgatada pelo BaianaSystem, projeto de Robertinho Barreto, em “Frevofoguete” e, logo depois, Gal Costa fervendo na clássica “Balancê”, escrita pelo saudoso Braguinha em cia de Alberto Ribeiro.
E falando em clássicos, Chico Buarque faz troça com as guerras em pleno carnaval com “Rio 42”, da Ópera do Malandro, seguido de Maria Rita em sua ode aos “Valores Do Passado”. O frevo volta com o resgate da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério (nome de um bairro na periferia de Recife) em “Frevando em Paris” e modernas leituras do ritmo pelas mãos da Orquestra Contemporânea de Olinda, em seu novo e ótimo disco “Pra Ficar”(2012) e Numismata na companhia de Maria Alcina em “A Vida Como Ela é”.
Romulo Fróes ressuscita São Paulo do túmulo do samba com a marchinha “O que todo mundo quer – Ninguém liga” e pra fechar dois sambas de avenida: “Fanfarra (Cabua-Le-Le)“, encartada no disco Brasileiro, de Sérgio Mendes, e “O Dia Em Que O Sol Declarou Seu Amor Pela Terra” uma lindíssima composição de Jorge Ben que você pode conferir no vídeo exibido em janeiro de 1982, no Fantástico, da TV Globo.
Tomara que o astro-rei venha abrilhantar e aquecer os nossos dias de folia porque ele anda devendo neste verão carioca!
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24.12.12
Quanto riso, quanta alegria!
Olha o Carnaval, aí, gente! Ok, os blocos e escolas de samba ainda devem dar passagem primeiro ao Papai Noel e suas renas e aos fogos do réveillon. Mas no Rio de Janeiro não é novidade que o carnaval é o ano inteiro. E pensando na folia que tanto caracteriza a alegria e a descontração do que é ser ou vivenciar o espírito do folião desta cidade é que o supertime do RIOetc me encomendou uma seleção musical para deixar os dias mais leves e divertidos para quem folheia A Carioca.
E pra começar devagar vamos acompanhar o “Carnavalzinho (Meu Carnaval)” de Antonia Adnet, com muita poesia e melodia somente num banquinho e violão. “Copacabana” e seus personagens ímpares estão reunidos na marchinha de Marcelo Camelo que tece loas à rotina simples e familiar dos senhores do Bairro Peixoto, à brisa e ao mar. A brincadeira continua na bela leitura de um dos mais contagiantes ritmos brasileiros em “Frevintcho” que a reunião sulamericana da turma do Songoro Cosongo conseguiu agrupar num tema puramente instrumental.
O inigualável humor carioca está sintetizado na faixa de “Dia de Carnaval”, do duo Letuce que traduz sarcasticamente uma desilusão amorosa em plena folia, fato comum e conhecido nos blocos e coretos carnavalescos da cidade. Mais “Frevo” na versão da baiana Márcia Castro em homenagem ao conterrâneo Tom Zé dono da canção que foi encartada no disco dele de 1972, Se o Caso é Chorar. Daí “Máscara Negra” na versão heavy-doce do Los Hermanos seguida da marchinha “O que todo mundo quer – Ninguém liga” belamente composta pelo paulista Romulo Fróes. Os clássicos “Yes, Nós Temos Bananas”, “Ta-Hi! (Pra Você Gostar De Mim)” e “O Samba Taí” respectivamente nas interpretações de Caetano Veloso, Marina de la Riva e Thalma de Freitas acompanhada da elegância de Wilson das Neves.
Na sequência, Tono e Céu+3 Na Massa fazem seu carnaval em arranjos mais moderninhos para “Sem Falsas Esperanças” e “Frevo De Saudade”. E pra terminar, a folia dos carioquíssimos da Orquestra Imperial, Pedro Luís e A Parede e a novidade dos dias de festa em 2012: a reunião do A.B.R.A. (Rubinho Jacobina, Cibelle, Thalma de Freitas entre outros) que entrou no espírito das marchinhas clássicas em “Marcha da Preparação” exigindo fôlego e força pra aguentar os quatro dias de folia e mais blocos na quarta-feira que já deixou de ser de cinzas há anos.
Então já é hora de tirar as fantasias do armário, deixar respirando ao sol, porque A Carioca quer ver todo mundo carnavalizando. E assim, me despeço da coluna e do ano de 2012 pra fazer a minha folia particular desejando muita alegria para o ano-novo. Saúde!
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17.12.12
Alô, criançada!
Nesta época do ano, com o Natal se aproximando, vivemos a correria, estresse e também a curtição de comprar e trocar presentes com os colegas de trabalho, amigos e família. As crianças inspiradas pelo mito do Papai Noel são as que vivem mais intensamente este período eufórico.
Mas criança eufórica e cheia de energia tem o ano todo, seja para aquele passeio no parque, no mergulho em tarde de sol quente ou na festinha do playground do melhor amigo. E pra deixar o encontro entre pais e filhos ainda mais colorido é que A Carioca pensou num capítulo musical pra divertir todos ao mesmo tempo.
Pra começar, um arranjo bem lúdico em “Anjo da Guarda” elaborado pelo trio Carlinhos, Marisa e Arnaldo em Os Tribalistas. A Renata Abranchs queria muito “Leãozinho”, e fui encontrar no Beirut para o CD Red Hot + Rio 2 a versão perfeita para o sucesso de Caetano. Daí quatro canções em sequência encartados em discos voltados para as crianças, mas que os adultos adoram: “Todos Estão Surdos”, versão do Pato Fu no disco Música de Brinquedo, o clássico “O Pato” em Partimpim Tlês, por Adriana Calcanhotto, Mart’nália comportada em “Batuque na cozinha”, composição do pai, e “Tum tum tum”, com Roberta Sá, do disco Forró pras Crianças.
Chicas, Bebel Gilberto e Andreia Dias estão aqui, canções de adultos em tom infantil e que agradam a qualquer coração. Marisa Monte aparece na versão de “Magamalabares”, de 2001, e Adriana Calcanhotto novamente cantando o clássico “Lindo Lago do Amor”, composição de Gonzaguinha. Do último disco, ÔôôÔô, Thaís Gulin traz “Ali sim, Alice” na companhia de Tom Zé – uma pequena homenagem para minha afilhada Alice.
Pra fechar, “Heads Up”, da trilha sonora do encantador “Where the Wild Things Are”, de Karen O e Harry Belafonte na clássica “The banana boat song (Day O)”, trilha do filme “Beatle Juice”, mas que nos meus arquivos também faz parte da trilha da Rádio Corsário – O som da galera Vamp. A molecada adorava as caretas de Vlad e seus vampiros…
Pra continuar se divertindo, procure o QR na A Carioca e solte as crianças no salão.
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10.12.12
Música pra pedalar
“Tem que correr, tem que suar…” O verão vem chegando. E a frase, retirada da clássica composição “Estrelar” de Marcos Valle, no ano de 1983, traduz bem o espírito do carioca que curte se exercitar à beira do mar, nos parques e praças, remando, correndo ou num leve caminhar ritmado para manter a cuca fresca, o corpo em forma e a alma leve. E a bicicleta é também uma ótima companheira neste ir e vir contemplativo das belezas da cidade enquanto contribuímos para aliviar um pouco o trânsito já tão caótico. A Carioca convida para curtir uma deliciosa seleção musical pra te ambientar neste agito corporal espontâneo que nos damos de presente diariamente e tornar a prática ainda mais prazerosa.
Eu falei da Céu há duas colunas, e ela volta aqui com a síntese carioquíssima em “Asfalto e Sal”, do lançamento deste ano de “Caravana Sereia Bloom” e a levadinha sexy/reggae que ela faz como nenhuma outra. Mantendo o tom e sentindo o vento bater no rosto, “Baby” com a junção de Alice Smith e Aloe Blacc encartada na segunda coletânea de Red Hot+Rio. O naipe reggae volta na sequência de “When I’m Sixty-Four”, dos Beatles, na versão dos nova iorquinos do Easy Star All-Stars com a cia de Sugar Minott e, logo depois, Mallu Magalhães em “Shine Yellow”. Vem o infalível Beirut em “Santa Fé” e a francesinha pop que eu adoro, Camélia Jordana, em “Mens Moi”. Aposto que as meninas vão empurrar o pedal com mais alegria depois da voz doce de Camélia e a não menos açucarada Sara Bareilles em “Gonna Get Over You”.
A nossa malemolência está de volta com a faixa “Eu e Você”, da mineira Regina Souza e o menino carioca Qinho pegando firme na guitarra em “O Tempo Soa” do disco homônimo produzido pela turma da Bolacha Discos, capitaneada por Bernardo Pauleira, que compôs e gravou a bateria de “Me Sara”, da banda Tono.
Tem ainda Nadeah em “Whatever Lovers Say”, que combina com a batidinha vintage dos americanos do Generationals em “When They Fight, They Fight”. E pra fechar a tampa colocando a magrela bem suada na garagem, a diva Nina Simone em “Ain’t Got No, I Got Life”, Metronomy em “Everything Goes My Way” e a surpreendente elegância do britânico Michael Kiwanuka que já foi tema da coluna uns meses atrás. Agora é só deixar a preguiça de lado, mirar no horizonte e se soltar de corpo e alma pra mais quente das estações da cidade mais fervilhante do planeta!
Pedale com vontade e aumente o volume!
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3.12.12
Dia de festa: a Carioca ama!
Se há uma coisa inegável é de que o carioca adora uma farra. Basta dar uma espiadinha no nosso carnaval, oficial e o de rua, para vivenciar a mais pura alegria. Mas a brincadeira não precisa ser séria como a folia de Momo que no fim acaba com qualquer um. Aquela reuniãozinha em casa regada a um bom papo recheado de amigos e muitos sorrisos é um prato cheio para a nossa alegria, que já não é pouca. Ainda que a coisa não caminhe para mais energia na pista sobre o tapete, a noite já está ganha!
E nesse espírito é que recebi o convite do RIOetc para trazer o clima musical perfeito para receber os amigos em casa antes que o vizinho de baixo reclame. A trilha está disponível no livro A Carioca – Guia de Estilo para viver a Cidade Maravilhosa, para você ouvir enquanto lê. Pra começar, um clássico de Jorge Ben, “Namorado da Viúva”, com todo o molejo inconfundível que ele emprestou ao violão e à nossa discografia com um dos melhores álbuns da história, o divisor de águas “A Tábua de Esmeralda”. A paulista Tulipa Ruiz vem em seguida com sua voz doce em uma singela canção sobre “A Ordem das Árvores”, do primeiro disco. A batida carioca fica ali representada pelas baquetas do excelente Duani, ex-Forróçacana.
Mais um clássico: “Baby, you can drive my car”, dos Beatles, na elegância de arranjo produzido por Ben Addison, um dos cabeças do acid jazz do Corduroy. Na sequência, duas conexões com Caetano Veloso: Céu cantando “Eclipse Oculto” numa batida meio synth (perfeita pro momento pista da festinha) colada em “Bogotá”, do Criolo, que arrebentou em 2012 cantando inclusive ao lado de Caê no VMB da MTV.
Cícero traz todo mundo de volta pro papo com a suavidade de “Tempo de Pipa”, encartada no seu primeiro disco, “Canções de Apartamento”. Perfeito pra mesclar com Kings Of Convenience pensando se dança em “I’d Rather Dance With You”. Mallu Magalhães vem mais madura em “Velha e Louca” e abre caminho pra turma de Curumin, Karina Buhr, Marcela Bellas e Bárbara Eugênia, que moram em São Paulo mas traduzem nosso espírito praiano muito bem. Destaque para a pista fervendo com “Constellations”, do Darwin Deez, que o Queremos trouxe pra lona do Circo Voador, em 2011, cheio de coreografias que divertiram o povo que compareceu em massa. E pra arrastar o sofá, feche com “Top Top”, do Mutantes, que não envelhece nunca!
Vai lá na Rádio GNT, onde estão hospedadas as trilhas d’A Carioca, chame os amigos e aperte o play!
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25.11.12
Mais carioca do que nunca
O RIOetc sempre sintonizou em suas fotos e histórias o melhor do espírito carioca. Tudo, e mais um pouco, está reunido agora nas páginas do livro “A Carioca – Guia de Estilo para viver a Cidade Maravilhosa”, lançado esta semana. Com muita elegância e bom humor, o casal 20 Renata Abranchs e Tiago Petrik faz um passeio delicioso por diferentes lugares e momentos que a cidade proporciona aos seus habitantes e visitantes.
Como colaborador, fui convidado a condensar a maneira leve, descontraída e única do carioca em algumas poucas músicas, reunidas em cinco playlists que podem ser acessadas através dos códigos QR impressos nas páginas do livro. Do encontro com o mar e os amigos na praia – uma extensão da casa de cada morador da cidade -, à doce rotina dos pais com seus filhos até chegar ao ótimo clima de uma festinha com muito bate-papo na sala de casa, que nós cariocas sabemos fazer como ninguém, as músicas ajudam a conduzir o leitor por esta atmosfera que a cidade exala. Assim vou relatar aqui como foi este trabalho a partir das músicas selecionadas para cada playlist.
E pra começar quente, vamos de praia e verão, a estação mais carioca de todas, com algumas canções para se ouvir com a maresia como companheira. E pra combinar, nada como o reggae, filho legítimo da maresia encontrada em todo o Caribe, principalmente na Jamaica, onde o gênero foi construído a partir da influência festeira e malemolente do calypso. E a cantora Céu deixa bem claro em todo o seu trabalho que adora o gênero que empurra “Cordão da Insônia” do disco Vagarosa, de 2009. Na sequência, uma das bandas mais bacanas nascidas na cidade, fruto da união de cariocas e alagoanos, o Fino Coletivo. “A Coisa Mais Linda Do Mundo” composta por Wado em 2001, reaparece numa roupagem mais balançante no disco “Copacabana”, do Fino, em 2010.
A seguir, o samba-rock em três diferentes tempos: o mestre Jorge Ben em “Berenice”, gravado em 1978, a popular “Vizinha”, do disco “Músicas Para Churrasco – Vol. 1”, de Seu Jorge, e “Morena Russa”, da banda carioca Do Amor. Daí fui buscar no baú uma canção que adoro de um disco que gosto mais ainda: “Olho De Peixe” cuja união de Lenine e Marcos Suzano nos presenteia com “O Úlltimo Pôr Do Sol”, perfeita para colocar no fone e apreciar da Pedra do Arpoador. Ainda tem Luísa Maita, Leo Cavalcanti, Pedro Luís e A Parede, Vanessa da Mata e Marcela Bellas com “Alto do Coqueirinho”, que a Renata ama! Caetano está la na regravação de “Nine Out of Ten”, de Mariana Aydar, Otto recebendo a mexicana Julieta Venegas em “Saudade” e a carioquíssima Thalma de Freitas em “Tranquilo”, composição de Kassin, um clássico! A exceção entre os nacionais ficou para “Tonight You Belong To Me” do encontro entre o cantor Eddie Vedder (Pearl Jam) e a californiana Janet Weiss, um pedido carinhoso da turma da redação do RIOetc.
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18.11.12
Costumo ouvir minhas amigas solteiras lamuriando-se de que há poucos homens no “mercado”. Ou de que quando estão disponíveis nada querem com a hora do Brasil. Então que tal não somente um, mas dois homens elegantes, gentis e muitíssimo interessantes? Nada mal, a não ser o fato de que não moram aqui e, literalmente, são definidos assim pelo nome que os une como banda: The Two Man Gentlemen Band.
E os caras são mesmo o fino e carregam toda a beleza do ouvir, vestir e flanar em tempos modernos porém vintage até a raiz do cabelo. The Two Man Gentlemen Band são o retrô estético – vide os ternos bem cortados – e a sonoridade empoeirada que remonta há tempos não vividos mas que são carregados na alegria das canções bem humoradas e no ritmo pulsante e alucinante do jazz e do swing.
Os dois senhores em questão, Andy Bean empunhando seu violão elétrico de quatro cordas e Fuller Condon no baixo vertical, remontam à época do swing que alimentou Dave e Deke, Big Sandy e outros da revitalização da Costa Oeste americana. Andy e Fuller são influenciados pelo jazz e a country music mas repletos de um humor bon vivant extremamente necessário aos nossos tempos de pressões cotidianas de todos os lados.
Com seis discos na bagagem desde o início em 2005, The Two Man Gentlemen Band lançou mais uma bolacha este ano, “Two At A Time”, utilizando-se do moderno modelo de financiamento colaborativo através do site Kickstarter. Porém o moderno foi até aí. A partir deste ponto toda a produção do disco foi submergida nos segredos de estúdio com gravação analógica em fita utilizando-se de microfones e outros equipamentos dos anos 40 e 50. Até mesmo a capa do disco foi confeccionada de forma artesanal e lembra muito os lançamentos de jazz dos anos 30.
O resultado é um som vibrante apimentado pela harmonia depurada em anos de estrada, o que acaba trazendo para o disco, e com enorme fidelidade, o resultado de suas apresentações ao vivo. Energia e humor contidas nas faixas de “Panama City Beach” e “Prescription Drugs”. Mas há espaço para respirar e até dançar coladinho em “Poolside”, “Tikka Masala” e “The Gentlemen’s Blue Drag”, que fecha o disco como faixa bônus.
11.11.12
Põe beleza nisso!
Prepare-se: se já não conhece, você vai esbarrar com algo delicioso. Nada de guloseimas, mas puro deleite visual e sonoro. E olha que tem algo de brasileiro nisto lá na raiz! Trata-se do duo de Chicago, terra do reeleito Obama, Wild Belle.
Os irmãos Elliot e Natalie Bergman – que é Belle até no sobrenome – cresceram entre diferentes ondas sonoras para desembocar no sensualismo tropical e pop de canções como “Backslider”, “It’s Too Late” and “Keep You”. As misturas são muitas: Tom Zé (entre os Top 10), Miles Davis, Fela Kuti e Pharaoh Sanders das orelhas parabólicas de Elliot fundidas com as influências de Aretha Franklin, Bob Marley e a também nossa Astrud Gilberto, que se apoderaram do corpinho mignon de Natalie ainda adolescente. Tem até os Novos Baianos, reunidos num galpão – provavelmente do tempo em que todos moravam juntos num sítio em Vargem Grande – em fotos publicadas no Tumblr da dupla.
O primeiro disco ainda nem saiu. Os poucos singles circulam pela web mas foram suficientes para que os irmãos fossem alavancados como os novos darlings, não somente do meio musical, mas também do mundo fashion. Vide o ensaio produzido para o site de moda e tendências Refinery29 exibindo a mistura do country com o estilo rocker-vintage dos irmãos Bergman, além do convite para tocarem ao vivo na chiquérrima Mulberry, em terras britânicas.
Voltando à música, o irmão Elliot é uma usina instrumental, toca praticamente tudo o que cai em seus braços: violino, sax, piano, kalimba elétrica, guitarra, clarineta. Natalie costuma dizer que inspira-se em Etta James e, principalmente, Astrud Gilberto para emitir sua voz sex killer e ao mesmo tempo doce.
O duo deixa marcas profundas por onde passa. Como no úiltimo Treasure Island Musical Festival, realizado no mês de outubro em São Francisco, onde seu show chamou a atenção dos críticos mesmo se apresentando entre figurinhas já mais rodadas como XX, Gossip e Toro Y Moi. Esse negócio de impressionar o mundo talvez seja algo de especial que a água de Chicago contém e mexe com o povo de lá…
28.10.12
O Pará toma conta
Não tem pra ninguém. Na música o Pará é a bola da vez e parece não querer passar pra mais ninguém. O tecno brega (ou melody), juntamente com o funk carioca, são os nossos legítimos ritmos eletrônicos. Nesse embalo, o furacão Gaby Amarantos chegou ao sul com tanta força que rapidamente colocou uma de suas interpretações na abertura de novela da Vênus Platinada. E este veio generoso e enriquecido traz uma bela artista para os ventos de cá. Luê Soares, ou simplesmente Luê, prepara o lançamento de seu primeiro disco pelo projeto Natura Musical.
Sua incursão como cantora é bastante recente – menos de dois anos –, mas ao ouvi-la cantando percebe-se uma segurança e personalidade impressionantes. Filha do músico e compositor Junior Soares – um dos mestres na pesquisa do caldeirão musical e cultural dos rincões nortista e nordestino, à frente do grupo paraense Arraial da Pavulagem –, Luê escondeu seu belo timbre atrás de anos de estudo clássico do violino no Conservatório Carlos Gomes, em Belém. Após tomar coragem e soltar a voz, Luê migrou do violino para o seu ancestral, a rabeca, encaixando perfeitamente sua escolha ao repertório plural adquirido, por gosto próprio, em audições dos mais variados ritmos, desde Bjork e Beatles aos mais populares artistas de sua região.
O disco, esquentando no forno da prensagem, teve produção do músico e compositor Betão Aguiar, filho de Paulinho Boca de Cantor (integrante do clássico Novos Baianos) e baixista de Arnaldo Antunes. Essa aproximação garantiu a Luê as participações do próprio Arnaldo e seu braço esquerdo, o guitarrista Edgar Scandurra, além dos bateristas Curumin e Pupilo. Este último mais uma vez produziu o recém-lançado disco do cantor e compositor Otto, “The Moon 1111”, que, encantado pela belíssima voz de Luê, a convidou para um duo na faixa “Selvagens olhos, nego!”. E Otto já cantou a pedra: Luê com a idade que tem (23) e o timbre vocal que ora lembra um pouco de Marisa Monte no início de sua carreira, chegou pra ficar e vai longe!
12.10.12
Pra crianças de todas as idades
Costumo dizer que música é um poço sem fundo. Isto se conecta ao meu desespero em não dar conta de tanto conhecimento e informação sobre aquilo que não vivi musicalmente – relacionado aos clássicos musicais – e as belas novidades que aparecem a cada esquina, seja real ou cibernética.
O rapaz aqui, Michael Kiwanuka, é um ótimo exemplo. Há poucas semanas, o encontrei entre algumas pesquisas. Mas coitado, acabou dando lugar a outros trabalhos. Ficou bem guardado até uma audição mais cuidadosa e caiu como uma luva na minha procura musical que se aproximasse das crianças ao nosso redor, afinal este weekend é inteirinho delas. Mas isto não põe você, criança-adulta, de lado. Kiwanuka fala aos corações de todas as idades.
E 2012 parece ser um excelente ano pra ele. Em janeiro, lançou seu primeiro disco, “Home Again”, e de cara já foi ganhador do BBC’s Sound of 2012, premiação que reúne nomes influentes da indústria fonográfica e críticos para eleger as grandes promessas do mercado da música. Mika, 50 Cent e Adele – pra quem Kiwanuka abriu alguns shows na Europa – já foram alguns dos eleitos. Mas apesar de parecer fácil, Michael levou um certo tempo para encontrar o seu lugar nos palcos.
E a coisa pareceu tomar forma quando um amigo apresentou-lhe alguns álbuns do dinossauro Bob Dylan. Na sequência, as descobertas próprias de Bill Withers e Otis Redding, duas enormes influências para o seu estilo. Daí, algumas passagens por estúdios e bandas de soul e R&B empunhando seu instrumento, a guitarra, até que incentivado por amigos e também o músico e produtor Paul Butler, entrou no estúdio para gravar as composições que mantinha escondidas até então.
Resultado: um lindíssimo disco, muito bem arranjado entre cordas e detalhes percussivos e que toca fundo ao discorrer sobre temas como o amor, saudade e pertencimento. “Home Again” trouxe Michael Kiwanuka aos holofotes assim como belas composições encartadas em faixas como “I’ll Get Along”, “Tell Me a Tale”, “I’m Getting ready” e a balançante “Bones”. Ah, qualquer semelhança com Jack Johnson é mera coincidência!
7.10.12
Falando aos corações
Doçura, amor e voz aveludada. Uma perfeita tríade para se ouvir no sofá de casa, quietinho ou bem acompanhado. Este é o convite que a jovem inglesa Lianne La Havas, mezzo grega por parte de pai e parte jamaicana por conta das raízes maternas, faz aos nossos ouvidos.
Na primeira audição, sua deliciosa voz nos captura. As letras não fogem do tema amor, ora solitário, ora em completude, mas sempre envolventes e quentes. Lianne faz parte de uma prodigiosa geração de cantoras do neo R&B inglês capitaneados pelas divas Joss Stone e a já saudosa Amy Winehouse. Mas não por acaso.
Lianne La Havas assinou um contrato com a Warner Bros. Records e ficou dois anos numa espécie de aquecimento para sua aparição em público, compondo e tocando. Isto pode ter gerado algumas críticas no sentido de um “produto” formatado para o mercado, sem muito “a mais” para os ouvidos mais sensíveis. Mas nada que deponha contra seu talento nato. Além da bela voz, Lianne é guitarrista e toca piano, influências do pai multiinstrumentista.
Antes de lançar seu primeiro disco “Is Your Love Big Enough?”, em julho deste ano, Lianne foi backing vocal da também inglesa Paloma Faith, lançou seu primeiro EP, “Lost & Found”, em outubro de 2011, e acompanhou a banda indie folk Bon Iver em sua turnê americana no mesmo ano. Isto gerou, para o bem ou para o mal, comparações com o próprio Iver e com o soulman Bill Withers – na minha modesta opinião, pontos muito positivos.
E dentro deste parâmetro, “Is Your Love Big Enough?” é um disco para apreciar no silêncio. É fato que gostaria de ouvir a inglesa em composições um pouco mais soltas e menos melodiosas, porém é raro ser humano vir ao mundo com tanta emoção e ardor unidos a uma belíssima voz. Destaques para “Au cinéma”, “They Could Be Wrong”, “Tease Me” e as com pegada mais folk como “Forget” e a própria “Is Your Love Big Enough?” que dá nome ao disco.
30.9.12
Cálculos e emoção
O sentimento é tudo, mas para muitas pessoas música é uma questão matemática. Já o multiinstrumentista, DJ e produtor inglês Will Holland, de apelido Quantic, promete mostrar hoje à noite, no Studio RJ, que música é puro feeling. E sua trajetória musical não o faz mentir. Desde as guitarras em bandas de rock na adolescência até a profunda pesquisa de ritmos latinos após escolher a Colômbia como pátria, Quantic sempre se interessou por notas, compassos e harmonias.
Seu début no mercado, em 2000, foi com o pé direito. O single “We Got Soul” fez enorme sucesso numa bela mistura de hip hop e jazz. Na sequência, lançou dois ótimos discos pelo selo Tru Thoughts: The 5th Exotic (2001) e Apricot Morning (2002), em que contava com a participação de diferentes músicos britânicos, entre eles a cantora Alice Russel nos seus primeiros registros vocais e que acabaria por se tornar sua afilhada musical.
No ano seguinte, empunhando guitarra, baixo e algumas percussões, Quantic embarca no projeto The Quantic Soul Orchestra ao lado da irmã e saxofonista Lucy Holland, mergulhando na sonoridade até então empoeirada do mundo do jazz/funk dos anos 60 e 70. Daí surgiram bolachas fantásticas como Stampede (2003) e Pushin’ On (2005) que embalava em violinos e metais a canção “Feeling Good”, originalmente composta para o musical “The Roar of the Greasepaint – The Smell of the Crowd”, de 1965, e que foi inúmeras vezes regravada em versões de Nina Simone, Muse, Michael Bublé e Pussycat Dolls. Em 2007, mudou-se para a Colômbia onde montou um estúdio próprio, totalmente analógico, e passou a investigar as raízes da música latina além do reggae e o dub encartadas no disco “Tropidélico”.
Quantic chega ao Rio com o novo disco “Look Around The Corner”, lançado em abril, fruto da parceria com Alice Russel e promete sacudir as paredes do Studio RJ com seu DJ set recheado de jazz, funky, soul, latin & dub em noite de aniversário de um dos grandes DJs da cena brasileira, o brother Marcelinho Da Lua. Isso sem contar a presença dos DJs Tamenpi, MB Groove, o dinamarquês Ras Shack e o VJ Montano. Vale muito!
23.9.12
Mais do que miragem
Até o princípio de 2011, uma banda praticamente desconhecida do público brasileiro. Mas com dois shows em menos de 40 dias – o primeiro, um dos mais comentados e elogiados da primeira edição do Lollapalooza no Brasil – o Band of Horses conquistou rapidamente um respeitado grupo de admiradores do seu estilo country/folk. Mas a trajetória do Horses não é tão galopante quanto parece.
Os caras estão na estrada desde 2004, sob a liderança do cantor e guitarrista Ben Bridwell, mas só chamaram mesmo a atenção da crítica com o sucesso do terceiro disco, “Infinite Arms” (2010), que chegou a ser indicado para o Grammy de Melhor Disco Alternativo e figurou entre os tops da Billboard americana e do mercado britânico. Assim, a porteira escancarou-se e chegaram convites para abrir shows de Pearl Jam, Snow Patrol, Kings of Leon, Foo Fighters e My Morning Jacket, sendo este último a grande referência para a sonoridade do Horses. Apesar do estilo country, a banda é originária da efervescente cidade americana de Seattle, eternizada como a terra do grunge.
E o Band of Horses está de volta com o recém lançado “Mirage Rock”, que muito diferente dos discos anteriores, trabalhados em muitos overdubs e na extremidade do perfeccionismo, traz a banda numa sonoridade mais crua, gravados em poucos takes, guardando assim toda a energia de suas apresentações ao vivo. Culpa do lendário produtor inglês Glyn Johns, que tem no currículo uma penca de monstros sagrados como Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan, Eric Clapton, Led Zeppelin, The Clash, Midnight Oil e Rod Stewart.
Valeu muito a pena. As quase imperceptíveis imperfeições técnicas estão lá inseridas entre harmonias e letras, mas que ganham em frescor e crueza que só contribuem para sonoridade doce e delirante do Horses. “Mirage Rock” tem como destaque “Knock Knock”, que abre o disco num rock vintage de muitas vozes em coro seguindo a principal de Bridwell, a característica mais marcante do Horses. Na sequência, as boas “A Little Biblical” e “Electric Music”, puro classic rock! Mas o Horses também é bom de baladas, como fica claro em “Slow Cruel Hands of Time”, “Dumpster World” e “Everything’s Gonna Be Undone”, perfeita para dedilhar em volta da fogueira.
16.9.12
Abrindo portas
Muitas bandas vivem desesperadoras agruras no momento de entrar no estúdio para gravar o segundo disco. O ar fica ainda mais pesado quando existe o rastro do brilhantismo do primeiro trabalho. “Tourist History” (2010), o debut do trio irlandês Two Door Cinema Club, fez um estrondoso sucesso no universo indie, escancarando as portas do mainstream para os garotos, incluindo aí uma apresentação arrebatadora no palco principal do Glastonbury Festival, em 2011, e o Choice Music Prize, que premia anualmente o melhor disco irlandês.
Faixas como “Something Good Can Work” e “What You Know”, com riffs contagiantes e letras ensolaradas, tocaram tanto nas rádios e clubs que parece que há mais tempo entre “Tourist History” e “Beacon”, que acaba de chegar às prateleiras. Porém dois anos foi tempo suficiente de estrada e shows (incluindo um dos pontos altos do projeto Queremos em 2011, num domingo vespertino de Circo Voador lotado) para dar maturidade ao trio.
“Beacon”(2012) traz mais camadas sonoras e harmonia para o Two Door e também letras um pouco mais densas. “Next Year” tem início num loop de guitarra sintetizada que lembra trilha de video game mas que imediatamente ganha a batida electro pop que é bem a cara do trio. E batida conquistada através de synths e beats pré-gravados, já que o trio apoia-se em duas guitarras e contrabaixo! “Handshake” e “Wake Up” seguem a trilha com um pouco mais de melancolia, desembocando na balada triste do disco: “Sun”.
“Someday” é a faixa que mais lembra a pegada do primeiro disco com o refrão “There is no time / For wasting any time…” que sem perder tempo chega ao primeiro single lançado: “Sleep Alone”. “The World Is Watching”, abre num riff à la calypso a sequência de três faixas relativamente parecidas em sua densidade, destacando a maturidade nas letras deste disco. A seguir, a boa “Pyramid” que lembra um pouco da atmosfera criada pelos também britânicos do Muse desembocando na música que encerra e dá nome ao disco, “Beacon”. E fiquem atentos à agenda do Lollapalooza Brasil 2013, porque a chance do trio voltar aos palcos daqui é enorme.
2.9.12
Vá de vintage!
Toda manhã de sábado é dia de feira de antiguidades no centro do Rio de Janeiro. A Praça XV lota de barraquinhas com uma enorme variedade de ítens do passado: máquinas fotográficas, brinquedos, óculos, carros, luminárias, brincos e colares, vitrola e vinis, telefones e rádios. O vintage é up to date e ganha mais força a cada dia, e o universo da música não poderia escapar.
Já faz um tempo que artistas abusam desta tendência em seus videoclipes e capas de discos, mas agora eles incorporaram de vez. Começamos pelas quatro garotas americanas do The Like, com seu rock alternativo retrô. Elizabeth “Z” Berg (vocal/guitarra), Laena Geronimo (baixo), Tennessee Thomas (bateria/vocal) e Annie Monroe (órgão) formaram a banda em 2001, e carregam nos olhos com muito delineador e lápis de olho, no topete e franjinhas, e em roupas, toda a inspiração sessentista. Na discografia estão incluídos dois álbuns, ”Are You Thinking What I’m Thinking?”, de 2005, e “Release Me” (2010), além de três Eps.
A irlandesa Imelda May é mais uma que parece viver em outra década, e escolheu os anos 50 para se inspirar. Veste-se como as pin ups, em estampas de oncinhas e bolinhas, sapatinhos peep toe, batom over vermelho, olhos de gatinha, topete rolls compõem o seu estilo – além, claro, de sua bela voz. Lançou seu primeiro disco em 2003, “No Turning Back”, mas seu trabalho mais conhecido chama-se “Love Tatto“, lançado em 2008. Diva total rockabilly! Por falar em bela, a cantora e atriz Zooey Deschanel não lembra a atriz Anna Karina, famosa nos anos 50? Não é a toa que é outra que encanta com seu guardarroupa e jeitinho cool vintage.
E para não dizer que os meninos ficaram de fora, deixo aqui um retro rocker que encanta os olhos femininos: Nick Waterhouse. Um legítimo nerd branquelo da Califórnia, nascido em 1987 e que anda bombando no cenário underground dos EUA nos últimos dois anos. Sua música vem acompanhada da excelente banda The Tarots com referência do R&B dos anos 50 e 60. Depois de chegar com o EP “Is that Clear”(2011), Waterhouse lançou esse ano o álbum “Time’s all Gone”. Vale colocar aquele casaquinho de vovô, um filme P&B de fundo e dançar freneticamente ao som de “Some Place”.
26.8.12
Bem na fita, choque!
Apelido de criança e som de gente grande. O músico, compositor e cantor Luciano Nakata, o Curumin, já não é mais novidade. Após os excelentes “Achados e Perdidos” (2003) e Japan Pop Show (2008), Curumin mixou as referências até então trilhadas entre o samba rock, o cavaquinho e o dub, e inclinou-se para o beat apoiado em bases eletrônicas. Assim, “na pressão”, lançou um dos discos mais bacanas de 2012, “Arrocha”.
Baterista de nomes como Arnaldo Antunes e Vanessa da Matta, Curumin entende de suingue, sendo uma espécie de sucessor de Jorge Ben só que bem mais pesado. E assim, abre o disco, com “Afoxoque”, como o nome sugere, uma mistura de afoxé com uma base de guitarras distorcidas. Pra aliviar um pouco, segue com uma crônica do cotidiano em “Selvage”. As faixas do disco são curtas e objetivas, em composições melódicas e assobiáveis. Como a jovem guardista “Passarinho” de composição do baiano MC Russo Passapusso, integrante do Baiana System, banda que relê a história musical da “triste” Bahia.
“Vestido de Prata”, composição de Paulinho Boca de Cantor (Novos Baianos), tem a sutil participação da paulista Céu na atmosfera vocal. “Doce” é um quase dancehall bem sexy, faixa das mais bacanas do disco. Na sequência, Curumin mostra o porque de “Arrocha” ser tão diferente dos seus discos anteriores. Com produção caseira (o disco foi gravado inteiramente em casa), as bases eletrônicas foram a moeda de troca para fazer um disco mais relaxado e sem as tensões de “horas pagas” de um estúdio. E as três faixas curtíssimas e em sequência, “BlimBlim”, “Sapo Cururu” e “Acorda”, são o melhor resultado desta produção com arranhados lo-fi.
Para finalizar o disco, que contou também com participações de Marcelo Jeneci, Guizado, Edy Trombone e Ricardo Hertz, Curumin se despede na melancólica “Pra Nunca Mais” e escancara positivamente os caminhos à frente com a frase “os caminhos estão abertos, o céu passou lá fora, é hora, simbora” na última faixa “Bambora!”. Acima, um dos teasers lançados na rede que dão bem o clima que permeou os dias de gravação de “Arrocha”.
19.8.12
O centro da periferia
Na última quinta-feira, teve início o Festival Visões Periféricas 2012 com festa de abertura no Oi Futuro de Ipanema. Em sua sexta edição, o festival homenageia um dos maiores – senão o maior! – documentarista brasileiro, o cineasta Eduardo Coutinho. Além da importância de sua obra documental que teve como forte característica registrar o lado mais humano das periferias, com obras emblemáticas como “Cabra Marcado Para Morrer” (1984), realizado ainda durante a ditadura militar, “Santa Marta: duas semanas no morro” (1987), “Santo Forte” (1999) e “Babilônia 2000” (2001), Coutinho foi extremamente atuante na ONG Cecip (Centro de Criação de Imagem Popular), que também é homenageada do festival pelos seus 25 anos de contribuição à cidadania audiovisual.
Visões Periféricas atua como um canal de exibição da produção audiovisual de jovens realizadores egressos de oficinas e cursos espalhados por comunidades brasileiras. Além disso, promove a integração continental com realizadores de outros países como Venezuela, Chile, Colômbia e Argentina na mostra Ibero-Americana.
Mas não à toa, escrevo aqui, numa coluna de música, sobre um festival de produção audiovisual. É que, lá, serão exibidos três dos 16 webdocumentários que realizei para a data de comemoração dos dez anos de vida do site Viva Favela, um portal que absorve toda e qualquer produção de conteúdo jornalístico (texto, fotos e vídeos) de moradores de comunidades e favelas espalhadas pelo território nacional. Em 2011, na cia. do também jornalista e fotógrafo Felipe Varanda, a 2Palitos Multimídia, com patrocínio da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, registrou o talento nato e fora de série de diferentes personagens que, cada um à sua maneira, compõem, produzem e vivem do seu talento musical.
O projeto “Periferas Musicais” investigou e trouxe à tona a relevância da produção musical de diferentes artistas que vivem não somente à margem geográfica da cidade do Rio de Janeiro como também do mercado fonográfico formal brasileiro. Encontramos, com a ajuda de alunos selecionados para uma oficina de webdocumentário realizada na sede do Viva Rio, diferentes tipos e personalidades que fazem da música sua válvula de escapecriativa como também base de sustentação humana e profissional. E talento não falta a nenhum deles. Desde a comunidade de Antares, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, à favela da Maré, passando pela Rocinha, Belfort Roxo e Vilar dos Teles, esbarramos com personagens que utilizam-se da sua arte musical para propagar mensagens educativas, aprendizado professional ou, simplesmente, diversão encapsulada em excelentes composições.
O registro em vídeo de todos eles, encontra-se publicado no site do Viva Favela na seção que dá nome a série. Entre tantos, escolho aqui um dos grandes representantes da velha guarda do funk carioca, que carrega a alcunha de ser “a história do funk”: Mc Galo será exibido dentro do Festival Visões Periféricas, na próxima quinta-feira, 17h, na sede do Oi Futuro, em Ipanema.
12.8.12
Emoção até os últimos dias
No próximo domingo as Olimpíadas de Londres chegam ao fim. E pensando na festa de encerramento que passará o bastão para o Rio de Janeiro, a cidade sede dos Jogos Olímpicos em 2016, lembrei do show, literalmente, que a cerimônia de abertura proporcionou ao mundo. Há duas semanas, a Inglaterra e seu Reino Unido não deixaram nenhuma dúvida – se é que havia alguma – da gigantesca importância que a história da sua música em tempos modernos representa para a nossa evolução musical. Eric Clapton, David Bowie, Pet Shop Boys, Bee Gees, Queen, Sex Pistols, New Order, Eurythmics, Rolling Stones e, naturalmente, os Beatles, pesos-pesados que serviram e ainda servem de referência para tudo o que conhecemos como música pop.
Há de se admitir que, assim como no quadro de medalhas, a disputa é pau-a-pau com a poderosíssima indústria do entretenimento americano. Mas considerando-se as dimensões territoriais de um e de outro, e o número de potenciais consumidores domésticos, os britâncicos são de uma competência e talento invejáveis. Isto me fez lembrar a nada difícil escolha que tive que fazer, no último Lollapalooza, entre ver o Foo Fighters ou os ingleses do Arctic Monkeys. Sem pestanejar, fiquei com o segundo que, não por acaso, se apresentou também ao vivo na abertura dos jogos em Londres.
Como andam dizendo por aí, “quero ver as Olimpíadas aqui no Rio”. E isto nada tem a ver com questionamentos sobre infra-estrutura ou logística. Vendo e ouvindo, em Londres, estes monstros sagrados da história musical do planeta fico curioso em saber quem serão os nossos representantes na festa que será preparada para o Rio. Por muito tempo, deitamos na fama da bossa nova ou dos tropicalistas, liderados por Caetano e Gil, para falar com categoria sobre música com o mundo. Os tempos mudaram e o nosso mercado fonográfico mudou ainda mais. A música popular brasileira tornou-se mais popularesca para se manter popular e vendável e, talvez, menos influente para os ouvidos mais críticos. Naturalmente que o samba não perde sua majestade e que ele é o alicerce, juntamente com o carnaval, da nossa cultura rítmica e pulsante tão particular. Mas será que correremos o risco de ver novamente representado a velha ideia de festividade e alegria de uma república de bananas?
Eu espero e acredito que não. Porém antes do risco das bananas, não podemos esquecer que somos e seremos mais ainda, nos próximos dois anos, a pátria de chuteiras. E, não por acaso, este texto não será lido durante o jogo da seleção olímpica de futebol que batalha por uma inédita medalha de ouro em Olimpíadas. Se os britânicos podem se gabar dos ídolos que construíram, nós também podemos tirar a nossa onda como “os caras” do esporte que, ironicamente, nasceu na Inglaterra. Tomara que amanhã, e domingo, a musiquinha entoada nos emocionantes jogos de volei em quadra torne-se hit: “ô, o campeão voltou, o campeão voltou, o campeão voltou, ô”!
5.8.12
Let’s swing!
Dos meus tempos de criança, uma das melhores lembranças era o prazer que tinha de ligar a TV nas tardes de sábado e me esbaldar assistindo o Cassino do Chacrinha. Um programa vespertino recheado de bundas e piadas dúbias, boas e péssimas músicas, a crítica velada ao status quo da época e o escracho do Velho Guerreiro que não perdoava ninguém. Entre buzinas, “bacalhaus voadores” e abacaxis, Chacrinha soltava uma frase que reverbera imensamente até os dias de hoje: “nada se cria, tudo se copia”. Por mais polêmica que a frase possa despertar, seu significado ganha cada vez mais peso no mundo conectado.
Na música, o termo “cópia” já suscitou muita desconfiança, brigas judiciais como também enganos escandalosos. Mas se há algo que não dá pra negar é que tudo anda tão misturado que fica quase impossível descobrir onde começa a criação de um e onde termina a cópia do outro. O mashup que citei aqui outro dia é um dos “problemas” modernos do mercado fonográfico em transição.
Nessa onda, são gerados inúmeros gêneros e subgêneros musicais que por muitas vezes mais confundem do que ajudam no momento de catalogação. Porém existem alguns estilos que batem no ouvido e rapidamente é possível conectá-los com o tempo e espaço ainda que não o tenhamos vividos em carne e osso. O electro swing, por exemplo, te diz alguma coisa? Pois na era do vintage é cool o tal gênero está no seu melhor momento. E não é de hoje!
O termo swing vem do swing dance, uma espécie de árvore geneálogica do estilo Lindy Hop de dançar baseada na fusão do jazz, o tap e o Charleston, originária do Harlem, em Nova Iorque, entre os anos 20 e 30. Quase um século depois, o estilo renasceu vitaminado com o nervoso electro para os clubs e pistinhas mais quentes dos Estados Unidos e Europa. O novo termo é costumeiramente associado às criações do músico, DJ e produtor austríaco Marcus Füreder, mais conhecido como Parov Stelar. A partir de 2004, o cara deixou muita gente do meio eletrônico boquiaberto por conta de suas mixagens de beat house e disco com as preciosidades clássicas do swing que sacudiram muitos jovens nos bailes de outrora.
Mas deixo aqui um link com um dos meus prediletos no estilo. Os franceses do Caravan Palace chegaram à alquimia perfeita do jazz, house, gipsy e breakaway e andam fervendo na doce Paris. Allons danser!
29.7.12
O mais paulista dos baianos no Rio
Nas minhas andanças mensais pela capital paulista, acabo circulando – por hobby ou trabalho – numa área que os próprios paulistanos citam como a preferida dos cariocas. Seja começando pela Vila Madalena, Pinheiros, Perdizes ou Higienópolis, acabamos sempre na Augusta.
Dividida pela Avenida Paulista em duas áreas bem distintas – clubs, bares e saunas do lado mais central; butiques de alto luxo, restaurantes, teatros e cinemas, no sentido dos Jardins – a Augusta foi uma grande referência para a juventude transviada, a Jovem Guarda e o Tropicalismo, durante os anos de chumbo da ditadura. Além de referência, também foi inspiração para muitos.
“Rua Augusta” (1963), de Ronnie Cord, filho do maestro Hervé Cordovil – de “Um Biquíni de Bolinha Amarelinha” – fez grande sucesso ao apresentar a loucura dos “pilotos” que atravessavam a rua em possantes a mais de 120 por hora. A canção foi regravada pelos Mutantes anos depois. Mais recentemente, os gaúchos do Cachorro Grande dedicaram um álbum inteiro ao reduto do “Baixo Augusta” (2011) e o rapper Emicida, que escancara a realidade da prostituição na área com o torpedo “Rua Augusta”, também do ano passado.
Mas passeando por ali, a canção que sempre me vem à cabeça é “Augusta, Angélica e Consolação”, do baiano Tom Zé. O “maldito” dos tropicalistas liderados por Duprat, Caetano e Gil, em fins dos anos 60, prestou algumas homenagens à capital paulista em suas canções. “São São Paulo” (1968), por exemplo, foi a feliz ganhadora do IV Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record, no seu disco de estreia. O disco “Todos os Olhos” (1973), que criou enorme polêmica em tempos de censura ao sugerir “outros olhos” na capa do disco, inclui minha doce lembrança “Augusta, Angélica e Consolação”. A genialidade de Tom Zé enreda a suposta vaidade da Augusta com a maldade da Angélica para encontrar salvação na Consolação. Ironicamente uma das vias mais tumultuadas da cidade.
Em 2012, Tom Zé faz homenagem às origens tropicalistas em seu novo disco “Tropicália Lixo Lógico”, uma espécie de libertação em tocar no tema que lhe “metia medo”, nas palavras do próprio. Em 16 canções originais e de próprio punho, Tom Zé recebeu convidados como Mallu Magalhães, Rodrigo Amarante, Emicida e o jovem músico pernambucano Washington. No próximo sábado, dia 4, Tom Zé apresenta o novo trabalho aos cariocas sob a sagrada lona do Circo Voador, que está completando 30 anos de história. Promessa de verborragia e música fora do lugar comum.
22.7.12
Para os bons e maus momentos
No último dia 20, comemoramos no Brasil o Dia do Amigo. A data é também celebrada no Uruguai e Argentina por iniciativa do médico argentino Enrique Ernesto Febbaro, que foi inspirado pela chegada do homem à Lua, em 20 de julho de 1969. À época, ele enviou cerca de quatro mil cartas para diversos países sublinhando o feito que “demonstra que se o homem se unir com seus semelhantes, não há objetivos impossíveis”.
A data fraternal e singela me fez recorrer aos arquivos em busca dos “amigos” em diversas canções. Há desde registros mais recentes como “Amigo” (Vanguart) e “Amigos Bons”, do pernambucano Junio Barreto, passando pelo rock obscuro de “Hey Amigo”, da banda setentista O Terço, chegando aos clássicos de Skowa e a Máfia em “Amigo do Amigo” e “Canção da América”, de Milton Nascimento, que não leva amigo no nome, mas sim “do lado esquerdo do peito”.
Mas a mais celebrada amizade da história da MPB, e que produziu inúmeros clássicos, foi a fonte de vida para o nascimento da canção-símbolo “Amigo” que festeja a união do rei Roberto Carlos e do tremendão Erasmo Carlos. E este encontro foi comemorado em muitos momentos. Em 1980, Erasmo bancou um projeto pioneiro de duetos com outros cantores em “Erasmo Carlos Convida”, interpretando somente canções compostas em parceria com o amigo Roberto.
“Sentado à Beira do Caminho” abre os trabalhos numa interpretação até então inédita com Roberto Carlos. Na sequência, Gal Costa em “Detalhes” e a roupagem samba soul de “Além do Horizonte” com o saudoso Tim Maia. Em seguida, Gilberto Gil, Rita Lee, A Cor do Som do “leãozinho” Dadi Carvalho, Bethânia, além de “Quero Que Vá Tudo pro Inferno” com Caetano Veloso, tema que, infelizmente, o rei Roberto se nega a cantar até hoje. Finalizando, um samba-jazz de primeira em “O Comilão” com Jorge Benjor, Nara Leão e a parceira dos tempos de Jovem Guarda, Wanderléia, até terminar com o beat lá em cima em “Se Você Pensa” no ritmo das Frenéticas, explosão de alegria da disco music brasileira.
O álbum despertou pouco interesse após o lançamento mas atualmente é considerado uma joia da nossa música e motivo de orgulho para Erasmo. Vinte e sete anos depois, novos encontros musicais em “Erasmo Convida Volume II” (2007), com participações de Adriana Calcanhotto, Lulu Santos, Marisa Monte, Skank e Los Hermanos. Com Chico Buarque, interpreta “Olha”, mais uma canção composta com o amigo Roberto Carlos e que foi tema da novella “Tropicália”, da Rede Globo. Vale a pena ver de novo – é só dar play no vídeo!
15.7.12
Todo dia é dia de rock
Folk rock, blues rock, surf music, soft rock, glam rock, heavy metal, hard rock, rock progressivo, punk rock, garage rock, hardcore, grunge, nu metal, indie rock, pós-punk e, no Brasil, o BRock de Legião, Barão, Paralamas e Capital. Um parágrafo inteiro não é suficiente para dar conta da rica, inventiva, moderna e histórica vida do rock, o gênero musical mais difundido no mundo.
A origem é creditada à fusão do blues, country e rhythm blues com o forte tempero dos negros americanos, na virada dos anos 40 para os 50. Os pioneiros Bill Haley, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e Little Richard tornaram-se ícones do gênero catapultado para as paradas de sucesso com a ajuda de um branquelo dono de uma linda voz e um rebolado inigualável: Elvis Presley. Estava assim sedimentada a raiz do gênero que seria regada por muitos seguidores e superalimentada pelos riffs de guitarra dos britânicos The Beatles e The Rolling Stones.
O estilo foi inicialmente associado ao satanismo, mas não demorou para conquistar corações e cinturas da juventude e ainda serviu como agente transformador – unindo, pela primeira vez, brancos e negros em torno de um único gênero musical. Nascia o termo rock and roll pelas mãos do discotecário Alan Freed que, em 1951, tocou sucessos da época – e conquistou! – para uma plateia multirracial, fato raro nos Estados Unidos.
Desde então o rock esteve conectado aos movimentos de contracultura ao redor do mundo: os beatniks, os hippies, os punks, todos foram influenciados pelo poder libertário do som apoiado no triunvirato baixo, guitarra e bateria. Seu poder transformador influenciou diversas culturas em setores como a indústria, os serviços, a moda. A jaqueta de couro preta talvez seja o grande ícone do estilo roqueiro e presente até os dias de hoje.
Na última década, o gênero cedeu espaço para o pop e dissociou-se do caráter primordialmente “rebelde”. Sua grande virada acontece justamente no dia em que é mundialmente celebrado: 13 de julho de 1985. Os britânicos Bob Geldof e Midge Ure serão os eternos responsáveis. Naquela data seria realizado, por conta e ordem deles, o Live Aid, um dos maiores eventos da história a ser televisionado via satélite e que reunia os maiores nome do rock à época em prol da arrecadação de fundos para o combate à fome na Etiópia. Realizados, simultaneamente, no Wembley Stadium, em Londres, e no John F. Kennedy Stadium, na Filadélfia, os concertos reuniram um público estimado em 1,5 bilhão de espectadores, em mais de 100 países, que assistiram ao vivo lendas como Paul McCartney, The Who, Bob Dylan, Queen, U2, Black Sabbath, Led Zeppelin, David Bowie, Eric Clapton, Beach Boys, B.B. King, entre outros.
E, assim, desde “Rocket 88″ (Ike Turner/Jackie Brenston), de 1951, considerada a primeira gravação de rock n’ roll, até os últimos lançamentos, o rock nunca perdeu sua majestade. Vida longa!
8.7.12
Dupla personalidade
Em tempos de interação e vida frenética nas inúmeras redes sociais, onde o limite do que é privado e público é separado por uma linha tênue ou até mesmo inexistente, o “ver e ser visto” e o “falem mal, mas falem de mim” são expressões que estão na ordem do dia.
Mas ao contrário de muita gente que não perde a oportunidade de aparecer, não é nada incomum encontrar na história das artes e da música personalidades que se escondam atrás de um pseudônimo, heterônimo, apelido ou até mesmo um avatar.
O escritor Fernando Pessoa ampliou o leque de sua criação estética, elaborando diferentes personalidades para si sob os nomes de Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro. Stephen King, autor de inúmeros best sellers, deu asas ao seu lado mais pessimista e violento assinando algumas de suas obras como Richard Bachman.
Na música há casos parecidos e por diferentes motivos. Em 1998, o então líder do Blur, Damon Albarn, juntou-se ao amigo e criador dos quadrinhos Tank Girl, Jamie Hewlett, para dar vida aos membros pra lá de animados do Gorillaz. Personagens de animação também fantasiam a vida e o rock alternativo da banda escocesa The Glammers. Em 1993, após uma briga judicial com a gravadora Warner pelo direito de suas músicas, um símbolo impronunciável que unia o masculino e o feminino referia-se ao “artista anteriormente conhecido como Prince”, nas palavras do próprio. De Londres, uma história parecida de procura pelo anonimato: o músico, produtor e DJ Aaron Jerome esconde-se sob o nickname de SBTRKT (algo como subtract – subtrair) e utiliza máscaras nas suas apresentações ao vivo.
Curto muito uma dupla australiana – ou seria de Trinidad e Tobago? – que circula anonimamente sob os apelidos de U-Go-B e Jimmy2sox e encabeçam o projeto Flight Facilities, nome em homenagem a uma empresa aérea australiana dos anos 70 em que o avô de um deles teria trabalhado. Os caras vivem soltando pérolas na internet de um delicioso indie-eletro-synthpop praiano. Ano passado, lançaram um single nu disco matador, o chicletinho tutti frutti “Foreign Language” e, há poucas semanas, soltaram mais uma baladinha quente: “With You”. Pena que eles cancelaram o show que fariam em São Paulo.
30.6.12
50 anos de praia
Adoro passar o olho na seção de um jornal carioca que traz sempre manchetes e notícias de 50 anos atrás. Imaginar-me há cinco décadas flanando pelas ruas e paisagens cariocas é um ato prazeroso e romântico. Gostaria muito de ter conhecido Copacabana e Ipanema com mais areia e menos sujeira. Ou ainda apreciar os prosaicos trajes femininos que desfilavam pelo calçadão. Um exercício de observação bem ao modo RIOetc – estilo, tendência e comportamento com DNA carioca.
Na música, é fácil encontrar referências artísticas e estéticas que nos remetam à vida praiana daqueles tempos. Aqui um ótimo exemplo: há exatamente 50 anos, nascia uma das grandes bandas da história impulsionadas pelo sucesso radiofônico de “Surfin’ Safari”. Passava o mês de junho de 1962 e os Beach Boys emplacavam seu primeiro grande sucesso, dando início a uma trajetória tão conturbada quanto musicalmente rica, e que deixaria um enorme legado para as futuras gerações.
Brian Wilson era um jovem e talentoso rapaz que, ao lado dos primos e alguns amigos de infância, levaria a cultura praiana da Califórnia para os quatro cantos do mundo inaugurando o estilo aclamado como surf music. Mas o pianista e arranjador Brian, o gênio criador de um dos catálogos mais celebrados da história do rock e que influenciaria até mesmo os Beatles, era tão fenomenal quanto problemático. Com 70 anos recém-completados, Brian Wilson ainda carrega sequelas de sérios problemas mentais e emocionais. A bad trip teria começado em 1964, após uma grave crise nervosa que o fez abandonar as apresentações ao vivo dos Beach Boys, sendo substituído nos shows por Glen Campbell e, em seguida, por Bruce Johnston, remanescente do grupo que excursiona, atualmente, por Estados Unidos e Europa.
Em 2012, os shows são uma oportunidade única de relembrar importantes sucessos como “California Girls”, “Fun Fun Fun”, “God Only Knows” e o mega-hit “Surfin’ USA” que faz a alegria de muitas pistinhas até os dias de hoje. E, de lambuja, comemorar a reunião de Brian com Al Jardine, David Marks, Bruce Johnston e o primo e eterno front man, Mike Love, que manteve os Beach Boys em atividade após longos anos e sobreviveu à morte dos irmãos, e ex-integrantes, Dennis e Carl Wilson.
O encontro também celebra o lançamento do álbum “Smile”, originalmente planejado para 1967 mas que, devido aos problemas de Brian à época, foi abandonado e chegou às lojas somente no ano passado. Resta torcer para que esta clássica reunião encontre a ondulação perfeita da Califórnia para o Brasil e chegue às nossas praias, em 2013, para um show repleto de sal e areia bem ao estilo carioca de ser.
23.6.12
De peito aberto
Entre os peixes azulados na Praia de Botafogo, protestos e manifestações nas ruas do Centro, e discussões – mais ou menos – acaloradas no Riocentro, a Rio+20 vai chegando ao fim. Mas a mídia, que nada de boba tem, arrumou alguns temas prosaicos para chamar a atenção de quem pouco se conectou à importância dos temas discutidos na cidade nos últimos dias. E desta forma, encontraram uma musa para a Conferência Rio +20.
O ato legítimo da cearense Brígida de Souza – que tirou a blusa por conta do calor insuportável que atingiu a todos numa passeata na Avenida Rio Branco – me fez lembrar, com um saudosismo que me acomete de tempos em tempos, da rebeldia e a falta de pudor de uma das grandes intérpretes que este país já produziu: Cássia Eller. Até os dias de hoje, me lembro com clareza de um show da Cássia, no falecido Canecão, em que ela, a certa altura do show, provocava a plateia colocando seus mamilos à mostra. Era o seu “Veneno AntiMonotonia” para o preconceito social reinante ao mesmo tempo em que prestava uma belíssima homenagem às canções de outro rebelde sem igual chamado Cazuza.
Era o ano de 1997 e Cássia Eller, enfim, começava a conquistar o respeito de público e crítica com suas interpretações ímpares e um repertório variado mas ao mesmo tempo extremamente identificado com sua personalidade plural e desafiadora. De “Por Enquanto” (Renato Russo) a “Non, Je Ne Regrete Rien” (lembrada na voz de Edith Piaf), passando por “Na Cadência Do Samba” (Ataulfo Alves e Paulo Gesta), Cássia sempre se fez presente em interpretações únicas com sua voz rascante e métrica própria colocando-a num patamar muito distante das cantoras de sua época.
Quase comouma curva fora do ponto, Cássia Eller foi conquistando admiradores a cada música gravada. Indiscutivelmente, seu auge se deu poucos meses antes de sua morte trágica, com o lançamento do disco “Acústico MTV” lançado em março de 2001, ganhador de um Grammy Latino como “Melhor Disco Brasileiro de Rock” e um dos vinte álbuns mais vendidos no Brasil no ano de 2002.
Em 2012, Cássia estaria completando 50 anos. Mal consigo imaginar o que ela teria aprontado nestes últimos dez anos. E pensando um pouco desta forma, e com opropósito de homenageá-la, é que o documentarista Paulo Henrique Fontenelle – o mesmo realizador de “Loki – Arnaldo Baptista” sobre a vida do ex-Mutantes – está reunindo material sobre as passagens de Cássia pelo Rio de Janeiro e outras cidades em que viveu em sua vida itinerante. Como por exemplo, sua primeira residência no Recreio dos Bandeirantes tentando emplacar a carreira artística e o sítio que dividiu com o guitarrista Walter Villaça, na antiga Rio-São Paulo. Registro merecido e à altura da sua importância para a história da nossa música.
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Cássia Eller
16.6.12
Verde que te quero ouvir
Jogar o verde para colher maduro. Um ditado manjado que lembra o nosso malandro jeitinho brasileiro. E é um pouco do nosso jeitinho, e na nossa casa, que as questões mundiais mais urgentes, conectadas diretamente à vida de todos nós, estão em pauta.
Seja na Rio+20, concentrada no Riocentro, com caráter mais protocolar dos chefes de Estado ou nos encontros de ONGs e ativistas da sociedade civil, nas tendas armadas para a Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo, o desenvolvimento economicamente sustentável é o eixo principal das discussões. Os pilares são temas focados na inclusão social, o cuidado com o meio ambiente, produção de energia limpa e o reaproveitamento de materiais recicláveis.
E por falar em reciclagem, vamos falar de música. Essa conexão é mesmo semântica, mas pode-se dizer que música também é um produto com possibilidades infinitas de reciclagem ou re-uso. Existem alguns exemplos: uma nova versão daquele velho sucesso, em arranjo mais moderno ou interpretado por outro cantor, é uma música reciclada. O que dizer do remix? Mais uma forma de reciclagem musical.
Nos últimos anos, aqui no Brasil, o mashup – união de duas ou mais músicas numa única versão – alargou as fronteiras do que pode ser chamado de música. Mesmo esbarrando em intermináveis questões mercadológicas de direito de autor ou de fonograma, fato é que o mashup trouxe à tona o talento artístico de muita gente inventiva e bem humorada que não necessariamente compõe uma letra ou empunha uma guitarra para fazer música. O que vale é misturar.
E dentro deste sincretismo musical e extremamente criativo, que é bem a cara dos brasileiros, cito aqui algumas figuras que curto muito. Lucio K, por exemplo, é um fera na arte dos mashups. Considerado um dos pioneiros do gênero no Brasil, suas “composições” reúnem bom gosto e muita técnica. Em outra linha, no tamborzão do funk, o papa João Brasil e seu filho pródigo, André Paste, deram um molho tupiniquim ao mashup mundial. Em particular, gosto muito do conjunto da obra do DJ FAROFF (em caixa alta mesmo). Brasiliense e um dos fundadores da banda Móveis Coloniais de Acaju, o cara descobriu os mashups quando chegou no boom do estilo nos Estados Unidos. Da conexão do Planalto Central com o Tio Sam, saíram pedradas como esta reunindo Beatles, LCD Soundsystem e The Kinks.
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DJ FAROFF
9.6.12
Amantes intergaláticos
A Rio +20 vem chegando de mansinho na Cidade Maravilhosa. Entre muitos questionamentos e possíveis soluções, há quem suscite a espetacular ideia de que sugaremos tudo o que o nosso planeta produz até o momento de empreender em viagens espaciais para conquistar e habitar um outro planeta semelhante ao nosso numa galáxia distante.
Porém, antes do delicado e espinhoso tema ambiental, celebramos, em particular, o Dia dos Namorados justo na véspera do santo casamenteiro, o incansável Antônio. E juntando viagens espaciais com o enlace entre os enamorados nos próximos dias lembrei de uma banda belga, recém formada, chamada Intergalactic Lovers.
A estrada deles está começando a ser pavimentada. Reunidos desde 2008 sob diferentes nomes, Chedraoui Lara (vocal), Brendan Corbey (bateria), Maarten Huygens (guitarra) e Raf De Mey (baixo) pedem licença ao mundo indie saudando nossos ouvidos com o belo lançamento, em 2011, de “Greetings & Salutations”.
Mixado e masterizado nos estúdios Abbey Road que celebrizaram nada menos que os Beatles, “Greetings & Salutations” traz a doçura da voz de Lara com uma cama de lençóis macios tecidos com distorções e experimentalismos tímidos de um indie rock suave, de fácil e derretedora audição. Destaques para “Queen Of The Sighs”, “Look At Those Boys”, as guitarras de “Howl” e o piano+violão de “Shewolf” abrindo o disco.
Álbum pra curtir abraçadinho neste frio europeu, dividindo um Shirah e muitas viagens profetizadas por Júlio Verne!
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Intergalactic Lovers
2.6.12
Um vai tarde, o outro cedo demais
As últimas notícias da semana que tratam do imbróglio envolvendo o Clube de Regatas Flamengo e o (ex?) jogador Ronaldinho Gaúcho me fizeram refletir sobre o comportamento extracampo de uma parcela dos jogadores de futebol que atuam no país. É sabido que alguns deles, a despeito da necessidade de condicionamento físico e boas horas de sono, adoram festas e eventos regados a muita comida, mulheres calipígias e litros de bebidas alcóolicas. Naturalíssimo se reservados para momentos de folga ou férias.
Porém o que me chama mais atenção seria uma espécie de uniformização do gosto musical da quase totalidade dos jogadores de futebol brasileiros. Os gêneros musicais escolhidos costumam passar longe dos nomes conhecidos do cenário pop e rock. Estes perdem de goleada para os top hits do sertanejo, funk ou pagode. Mas entenda por este último o chamado “pagode paulista”, com altas doses de romantismo barato e muita, muita dor de cotovelo. Algo bem distante das reuniões festivas chamadas inicialmente de pagode e que exaltavam o samba clássico e, mais tarde, o partido-alto criado e executado nas rodas por mestres sambistas. Daí o termo “alto” referindo-se ao alto gabarito dos compositores, intérpretes, estudiosos e aqueles criados no seio do samba tradicional.
E, hoje, lá do “alto” canta um dos grandes nomes do gênero: Carlos Roberto de Oliveira, o Dicró. Nascido em Mesquita, na Baixada Fluminense – região em que vivi grande parte da minha juventude – Dicró foi sempre conhecido por suas composições satíricas e bem humoradas que, invariavelmente, não perdoavam as “queridas” sogras. Entusiasta da construção do Piscinão de Ramos, criando inúmeras músicas em prol do projeto, Dicró foi proprietário de um trailer no local que acabou por se tornar um ponto de encontro de sambistas. Entre mais de dez discos de estúdio, uma obra-prima: “Moreira, Bezerra e Dicró – Os 3 Malandros In Concert” (1995), uma sátira ao espetáculo que reunia os tenores Luciano Pavarotti, Plácido Domingo e José Carreras. Desta forma, fica minha homenagem póstuma. Enquanto Dicró deixa saudades, de outros não faremos tanta questão de lembrar.
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Dicró
26.5.12
Single malt
Três anos se passaram desde o último disco, “Tonight: Franz Ferdinand”. Para 2012 eles prometem um álbum novinho em folha e sinalizam com músicas inéditas para o show gratuito que acontece no próximo domingo, 27, no Parque Independência, em São Paulo. Molezinha patrocinada pelo 16º Festival Cultura Inglesa, que amplifica arte, cultura e música britânica reunindo o que há de melhor nas ilhas da Rainha.
Na Escócia, terra natal dos integrantes do Franz, sua popularidade talvez fique somente abaixo dos melhores scotch whiskies produzidos por lá. No resto do mundo indie rock, o Franz é a grande referência, rivalizando em audiência com os americanos do Strokes. E não é pra menos. Letras consistentes, ritmos e batidas hipnóticas que estão gravados na memória de muitos cariocas após duas apresentações arrebatadoras na cidade, sendo a primeira no Circo Voador, em 2006, considerada uma das melhores da história da lona.
A última passagem pelo Brasil, em março de 2010, numa apresentação para convidados na The Week, em Sampa, valeu para poucos. Domingo, é a hora da verdade para uma enorme legião de fãs de Alex Kapranos (guitarra e vocal), Nicholas McCarthy (guitarra, teclados e backing vocal), Robert Hardy (baixo) e Paul Thomson (bateria), que de quebra vão assistir a mais duas ótimas bandas: o trio londrino do We Have a Band com suas batidinhas de eletrônica e synth pop, e os meninos do The Horrors num post punk mais cru com influências de Joy Division e No Love Lost. Vale a pena pegar a ponte aérea!
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Franz Ferdinand
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